A Informante – The Whistleblower – crítica

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“A Informante” é uma história verídica acerca do revoltante envolvimento da polícia local, da IPTF (International Police Task Force), de funcionários da Organização das Nações Unidas e diplomatas na conspiração para a corrupção, tráfico e prostituição de jovens Sérvias escravizadas e abusadas sexualmente ao chegarem na Bósnia.

O filme dramatiza os eventos ao redor da investigação de Kathryn Bolkovac, uma policial do Nebrasca que tem a oportunidade de viajar para a Bósnia para ganhar um dinheiro a mais e ter condições de morar mais perto da filha cuja custódia ficou com o pai.

O acobertamento dos crimes abomináveis perpetrados por pessoas corruptas – homens e mulheres – incapazes de sentir compaixão e racionalizando um distanciamento do que estava acontecendo em nome da ganância, foi exposto por Bolkovac em esforços sistematicamente heróicos, quase inconsequentes, para salvar um sem número de meninas e responsabilizar a informal e extremamente lucrativa organização criminosa.

A obra, dirigida por Larysa Kondracki e estrelada por Rachel Weisz, com participação de Vanessa Redgrave, David Strathairn e Monica Bellucci, é um filme sério e tenso com cenas repulsivas e capazes de fazer crescer, em qualquer espectador consciente, um grande ódio pela impunidade, discriminação e intolerância.

Bolkovac, em diversas ocasiões durante o filme, se sente manietada e a direção consegue fazer com que o espectador se compadeça da impotência que ela sente e dos riscos que corre para tentar fazer o que acha correto e considera sua obrigação como policial e ser humano.

Com sua investigação perigosa totalmente exposta pela Corregedoria (Internal Affairs), a incansável personagem arrisca tudo para salvar as vítimas da situação, jovens totalmente entregues ao medo de sofrer ainda mais, sendo que boa parte delas fora vendida por amigos e parentes como mercadoria.

Mais que um alerta acerca da discriminação religiosa, racial e cultural, o filme denuncia – para quem não é absolutamente cego – em quanto o ser humano está distante de ter superado as questões relacionadas a opressão da mulher e que qualquer afirmação em contrário é tão ingênua como completamente imbecil.

É ainda uma afirmação categórica de que conspirações existem, sempre existiram e que são os alicerces de todo e qualquer ajuntamento humano, e que o seu acobertamento é a única opção mesmo para aqueles que não se sentem responsáveis diretos por crimes perpetrados por tais conspiradores.

“A Informante” é um tapa merecido no rosto de uma Classe Média alienada e distante que não sabe nem quer saber de nada do que ocorre ao seu redor e que frui o mundo através do entretenimento, como se as Notícias e a História não fossem mais que uma sucessão de séries de TV das quais nos esquecemos ao desligar o aparelho.

De vez em quando é bom ficarmos indignados com a própria apatia e nos rebelarmos contra nossa incompetência e cinismo. Nos faz refletir… e é a ação, após tais reflexões, que nos ajudam a mudar o mundo.

Um dia talvez aprendamos que defender as instituições ao custo da vida e dignidade humanas não é aceitável em nenhum contexto.

O filme, que foi lançado em 5 de Agosto nos EUA, vai estar disponível no Brasil, apenas em DVD, ainda este mês.

Bruno Accioly

Bruno Accioly é diretor da dotweb.com.br, editor do OutraCoisa.com.br, concebeu a iniciativa aoLimiar.com.br e é co-fundador do Conselho SteamPunk