“Les Amours d’Astrée et de Céladon”

Difícil entender como “Les Amours d’Astrée et de Céladon” possa vir da mesma mente que nos agraciou com filmes tais como “Die Marquise von O…” (vencedor do BAFTA e do prêmio do júri em Cannes, em 1976) e “Ma Nuit Chez Maud” (indicado ao Oscar em 1962), e que mesmo mais recentemente nos trouxe produções interessantíssimas, como o aclamado “Conte d’Hiver”, indicado ao Urso de Ouro em Berlim em 1992.

O novo longa do cultuado diretor francês Eric Rohmer narra a lenda de Astrée e Céladon, um casal de pastores vivendo um amor contrário à vontade dos pais. A trama gira em torno do ciúmes de Astrée (Stéphanie Crayencour, estreando no cinema) e suas trágicas conseqüências, e a esperança de Céladon (Andy Gillet, vencedor do prêmio Étoile d’Or deste ano como revelação) em ter Astrée de volta em seus braços.

O problema, no entanto, não está na história, mas na forma como ela é contada. A impressão que se tem é de estar assistindo a um teatro infantil mambembe. Só que, infelizmente, ninguém na platéia é pai ou mãe dos atores no palco. A estética chega a remeter às subversões de Pasolini, mas sem a genialidade do mesmo, e a produção lembra o cinema pré-década de 50.

Se tudo isto era intencional, a fim de recriar um clima ingênuo, inocente ou bucólico, que a lenda de fato pede, então Rohmer falha miseravelmente em suas intenções. O filme, incluído entre a lista das apostas do Festival, parece estar passando apenas por se tratar de um nome como Rohmer. A aqueles que o incluíram em suas listas ao ler o artigo sobre o Festival do Rio aqui no OutraCoisa, fica registrado aqui o mea culpa.

Curiosidade: surpreendentemente, “Les Amours d’Astrée et de Céladon” ainda foi indicado ao Leão de Ouro em Veneza. Entretanto, a opinião popular nos festivais pelo qual passou (incluindo o próprio Veneza, além do Canadá e do Rio) foi bastante negativa. Na França mesmo, o comentário geral é que Rohmer quis imitar grandes cineastas do passado que terminaram a carreira (afinal, o diretor está com 88 anos e talvez não faça mais nenhum trabalho) com um filme senil, que chega a parecer uma paródia dos últimos filmes de Rosselini, e que se o cinema existisse em 1607, talvez se parecesse com esse. Triste.