3 perguntas para Duda Falcão
por Rober Pinheiro em setembro 15, 2012Zero Comentários =( Publicado em Livros
Depois de se aventurar por mais de uma dezena de coletâneas fantásticas, o escritor porto-alegrense Duda Falcão resolveu alçar voos mais altos e, chancelado pela Editora Underworld, lança agora em setembro seu primeiro romance, Protetores, uma fantasia urbana que traz em seu cerne uma leve propensão para o terror.
Na história, o misterioso Antonio Vilemum convida indivíduos especiais para se tornarem os novos Protetores. Entre a turma escolhida está Jango, um amazonense, Mirah, uma oriental, Ordep, um futuro caçador de vampiros, Jhava, uma mulher comum em busca de seu marido, Astrid, uma psicóloga, Rufus, um historiador e Gargul, um homúnculo. Mais diversificado, impossível, não?
Na primeira reunião dessa turma, realizada na mansão do emblemático anfitrião, os protagonistas são lançados em uma noite de aventura fantasmagórica e descobrem, depois dessa empreitada inicial, que o sobrenatural é parte integrante do mundo em que vivem e que, ao se tornarem Protetores, eles deverão proteger os frágeis e indefesos seres humanos da sede de sangue dos vampiros, das garras de lobisomens, dos demônios que pretendem aprisionar as pobres almas mortais e de fantasmas que de gasparzinhos não têm nada.
Ficou interessando em saber mais sobre essa fantasia urbana com cara de terror? Então, olho nas 3 perguntas que fizemos para o Duda:
Outra Coisa: Você trilhou um caminho literário bem interessante: de autor de coletâneas por demanda a publisher de uma editora fantástica. Quais foram os maiores desafios enfrentados em cada uma dessas fases tão distintas? Ainda há espaço, hoje, para coletâneas pagas ou você acredita que elas já cumpriram seu papel?
Duda Falcão: Em primeiro lugar, quero agradecer pelo espaço que a entrevista proporciona à divulgação do meu trabalho. Cara, sempre quis ser escritor e desde moleque invento minhas histórias. Na primeira oportunidade que tive de publicar um texto meu, fui em frente. Estou me referindo a uma coletânea paga organizada pela Editora Guemanisse, em 2005, pelo que me lembro. Foi minha primeira experiência, um conto de horror.
Continuei escrevendo contos… Fui criando narrativas curtas em função das antologias abertas que eu encontrava pela rede. Quando pediam histórias de vampiros, eu escrevia sobre vampiros, quando pediam enredos com lobisomens ou com zumbis, eu escrevia sobre lobisomens e zumbis. Mas não pense que se tratava de oportunismo, eu realmente gosto de horror; esses personagens sempre povoaram meu imaginário.
As primeiras oportunidades surgiram com coletâneas pagas. Você envia um texto, disputa com outros autores um espaço na obra e, depois, assina um contrato se comprometendo a pagar por uma cota de livros. Nesse sentido, posso destacar pontos que considerei muito positivos: li resenhas sobre meus contos, fiz amizades com escritores e editores e tudo isso significou experiência.
Atualmente participo apenas de livros em que sou convidado ou contratado. As coletâneas pagas cumpriram o seu papel no início da minha caminhada. Para quem está ingressando no mercado, é uma alternativa… Boa ou ruim, somente a própria experiência do autor dirá!
Em relação aos desafios, percebo que essa é uma realidade constante para o escritor. Somente a prática de escrever e a leitura contínua são capazes de nos aprimorar. Entender o mercado, conhecer pessoas do ramo, escritores, editores, leitores, participar de eventos literários são ações que contribuem para a complexidade de ser um profissional da escrita no nosso mundo contemporâneo, na nossa sociedade conectada.
Já no caso da Argonautas, o maior desafio é sobreviver. Não buscamos ser uma editora popular, em se tratando de vendas. Eu e o Cesar [Alcázar, coeditor e cofundador da Argonautas] temos outras atividades que nos sustentam economicamente. Então, a editora produz pouco, mas produz com foco na qualidade e com o compromisso de gerar livros de Literatura Fantástica que possam ser lembrados no futuro por aqueles que nos leram.
Vale destacar que a Argonautas trabalha com escritores convidados. Escolhemos um tema para a obra e contatamos os autores que acreditamos se encaixarem no perfil editorial. Ou seja, nosso objetivo é publicar Literatura Fantástica: Horror, Fantasia e Ficção Científica. Até o momento publicamos somente contos e não romances.
OC: Você é graduado em história e especialista em Literatura Brasileira, além de docente. Como professor, você consegue ver a entrada da literatura especulativa na sala de aula? Há algum espaço ou abertura para se trabalhar com a fantasia na formação do jovem leitor?
DF: Eu vejo da seguinte forma: na sala de aula quem decide o que o aluno vai ler é o professor. Se o professor gosta de literatura especulativa, ele pode, sim, inserir livros desse nicho no programa de seus alunos. Isso não significa abandonar as leituras básicas, aquelas indicadas por programas oficiais, mas ampliar o leque de possibilidades que considera importante para a formação do aluno.
No mundo conectado em que vivemos, os professores precisam conhecer o que está fora dos muros da escola e da educação tradicional. Se os alunos acompanham no cinema Os Vingadores, é hora de trabalhar história em quadrinhos, é hora de falar sobre História da América, é hora de falar sobre mitos e heróis; temos muitas alternativas, basta sermos criativos.
A literatura especulativa terá lugar na sala de aula se o professor conhecê-la ou der ouvidos aos interesses de seus alunos. Só assim o professor poderá indicar, propor debates e discutir criticamente as obras de gênero fantástico. O aluno, como sujeito, pode ler literatura fantasiosa, mas isso não significa que a discutirá em sala de aula. Para isso, é necessário o aval do professor.
Sem dúvida, a fantasia pode ser trabalhada com o jovem leitor. Podemos começar com a leitura e a análise da Odisseia de Homero, por exemplo, depois pensar em uma série de obras que seguem caminhos épicos na atualidade, tais como, O Senhor dos Anéis e As crônicas de Gelo e Fogo. Como disse anteriormente, dependerá do professor. Ele precisará usar a criatividade, além de saber comparar, criticar e inovar.
OC: Protetores é seu primeiro romance publicado, uma fantasia urbana com uma inclinação para o terror. No que ele difere de seus projetos anteriores, como o Hylana nas Terras de Lhu? Esta guinada para a fantasia urbana foi acidental ou providencial? E, pra fechar, o que o leitor acostumado com o Duda Falcão épico-fantástico pode esperar desse novo projeto?
DF: Minha curiosidade por saber o que as pessoas pensariam dos meus textos me levou a criar um blog: Hylana nas Terras de Lhu. Na “cara dura” ou “de pau”, como se diz, eu escrevia capítulos curtos e postava sem as preocupações que uma edição deve ter. Ou seja, não foi exatamente um trabalho profissional, mas um laboratório. Meu primeiro Frankenstein
Em Hylana, o leitor não vai encontrar um trabalho maduro, e sim um projeto de um autor que está experimentando, tanto as possibilidades do texto, quanto as peculiaridades de publicar na rede.
Já em Protetores busco o profissionalismo; escrevo, releio, reescrevo, deixo o texto hibernar, corto personagens, altero enredo e estrutura até chegar ao produto final. Além de ter procurado por uma edição tradicional, impressa.
Sou fã de literatura fantástica: horror, fantasia e ficção científica. Gosto de transitar por essa tríplice. No entanto, o horror tem se mostrado o chão ao qual estou mais bem adaptado no momento. Portanto, não foi acidental, foi mesmo por uma questão de gosto.
O leitor pode esperar por um livro de ação, repleto de personagens “vivos” e criaturas sobrenaturais. E uma edição de tirar o fôlego, criada com enorme competência pela Editora Underworld, desde o visual completo da capa até a diagramação, revisão e ilustrações internas do livro.
O livro Protetores será lançado durante o Fantasticon 2012, aqui em São Paulo, nos dias 15 de 16 de setembro.