Once Upon a Time

Não é uma prática nova. Revisitar personagens ficcionais e dar-lhes uma “verdadeira história” vem sendo feito em “Schreck”, “Encantada”, “Deu a Louca na Chapeuzinho”, “Supernatural” e, por que não dizer, é uma prática que encontra sua raíz brasileira em Monteiro Lobato.

O fato é que, quando bem feita, a releitura de personagens de fábulas acaba sendo uma colaboração dramatúrgica relevante para a literatura, tv ou cinema.

No caso de “Once Upon a Time”, a bem conceituada série de Adam Horowitz e Edward Kitsis, fica claro que se trata de algo mais que um conjunto de episódios bonitinhos acerca de fábulas já contadas. Ambos com “Lost” no currículo, Horwitz e Kitsis vêm elaborando uma tapeçaria complexa, com nuances convincentes e argumentos interessantes sobre quem é quem, o que é o que e como aconteceram de fato as histórias dos Irmãos Grimm e de outros autores.

Muito embora poucos conheçam os sanguinários e nada infantis enredos originais das fábulas dos Irmãos Grimm, eles mesmos eram narradores de segunda mão, que coletavam lendas e contos de diversas procedências e as compilavam, fatalmente modificando-as. O mesmo foi feito de forma muito mais drástica por Walt Disney e pela poderosa corporação herdeira de seu nome, que recondicionou fábulas de muitos autores e procedências, competentemente tornando-as mais palatáveis ao público infantil e jovem adulto, quase sempre mantendo uma componente atrativa até mesmo para o público mais velho.

Em “Once Upon a Time”, a premissa gira em torno de Emma, uma personagem complexa e cheia de questões mal resolvidas com seu próprio passado que é procurada por um filho – Henry – que dera para adoção quando mais jovem. Para retorná-lo à casa de sua mãe adotiva, ela viaja para a cidade de Story Brook, enquanto escuta seu filho contar sobre um passado fantasioso que, aparentemente, reflete as dificuldades do garoto com o fato de ter sido abandonado por ela.

Já em seu 17º episódio nos EUA, a série evolue para a permanência de Emma em Story Brook e se concentra no impacto que ela acaba tendo na cidade e nas estórias fantásticas que podem estar só na cabeça de um menino problemático ou representar muito mais que isso.

É um erro subestimar a série por tratar de um tema aparentemente infantil. A trama e a releitura das personagens ficcionais já existentes são engenhosas e muito bem estruturadas, resultando em uma narrativa interessante e que prende qualquer um.

Com a bela Jennifer Morrison (“House”) e a excepcional Ginnifer Goodwin (“Amor Imenso”) como protagonistas, e a magnífica Lana Parrilla (“24″, “The Shild”, “Lost”) e a sensacional Robert Carlyle (“SGU Stargate Universe”, “28 Weeks Later”, “The Full Monty”) como antagonistas, a série está mais que suficientemente aparelhada para garantir sua seriedade e relevância.

No Brasil a série começou recentemente a ser exibida no Sony Entertainment Television, nas versões convencional e também em HD.

Bruno Accioly

Bruno Accioly é diretor da dotweb.com.br, editor do OutraCoisa.com.br, concebeu a iniciativa aoLimiar.com.br e é co-fundador do Conselho SteamPunk