Doctor Who – Parte 1/8

Dimensões no Tempo


Uma parcela de tudo o que você queria saber sobre Doctor Who


No frio inverno de 23 de Novembro de 1963, um dia após o assassinato de JFK, um certo tema foi escutado nas televisões do Reino Unido, a abertura de um programa que mudaria as tardes de sábado inglesas para sempre. Muitas pessoas na época não faziam a minima ideia sobre o que o programa era, e assumiam que era mais um programa médico sobre um “Doutor qualquer coisa”, e lá pela metade do programa vinha o choque quando os personagem entravam na TARDIS e voltavam no tempo.

Doctor Who, a mais longa série televisiva de ficção científica do mundo, uma das mais populares em termos de audiência, venda de DVD’s, livros, e até downloads ilegais, já se tornou parte da cultura pop britânica e há tempos vem se espalhando para fora do Reino Unido, influenciando gerações de profissionais da TV, do cinema e da literatura, muitos dos quais cresceram assistindo a série. A série narra as viagens do Doutor, um misterioso viajante do tempo e do espaço e seus acompanhantes, e desde sua estreia, tem sido agraciada com prêmios de diversas mídias, rivalizando com as mais populares franquias da ficção científica (você sabe de quais eu estou falando).

Mas a jornada do Doutor começara um ano antes, em Março de 1962, Eric Mascwitz, Assistente de controle de programação da BBC pediu a Donald Wilson, o chefe do departamento de roteiros preparar um pesquisa com o publico para checar a possibilidade da emissora produzir uma nova série de ficção científica. O relatório foi preparado e entregue mês seguinte, seguido de ideias para o formato do programa que deveria ser entregue em Julho. As sugestões de Alice Frick e John Braybon, da equipe de roteiristas, sobre uma série abordando viagem no tempo particularmente, foram as que mais chamaram a atenção, sendo consideradas viáveis para desenvolvimento.
 Em Dezembro daquele ano, o canadense Sydney Newman chegou a BBC como o novo Supervisor de Drama, e sendo um fã ardoroso de ficção científica, quando soube de um horário vago entre certos programas de sábado da rede, achou o horário ideal para um novo programa de ficção científica, e entusiástico, reuniu o departamento de roteiros para definirem como seria o programa.
 Newman foi o quem trouxe a ideia de uma máquina do tempo que fosse maior do lado de dentro do que do lado de fora, também foram dele as ideias do personagem central, o misterioso “Doutor” e do nome da série: Doctor Who.

Originalmente, a série foi concebida como um programa educacional, usando a viagem no tempo para que os personagens presenciassem eventos da história, com o veículo temporal do Doutor, a TARDIS, se camuflando como um objeto do período de tempo daquele episódio particular (uma coluna de mármore quando na Grécia Antiga, um sarcófago quando no Egito, etc…). Entretanto, quando foram calculados os custos do programa foi descoberto que a reformulação da TARDIS em cada episódio seria caro demais, portanto, foi estipulado que o “Circuito camaleônico” da nave teria um mal funcionamento, dando a ela a forma permanente de uma cabine policial.
Após alguns atores recusarem estrelar a série, coube ao ator William Hartnell, de 55 anos assumir o papel do protagonista, conhecido por interpretar policiais, militares e outras figuras autoritárias, Hartnell foi o primeiro de uma longa lista de atores que interpretariam o Doutor.

Um Doutor e sua TARDIS

Acompanhado por sua neta Susan Foreman, interpretada por Carole Ann Ford, o Doutor iniciava sua jornada pelo tempo e espaço. Logo no primeiro episódio seriam acrescentados ao grupo dois professores ingleses do século XX, Barbara Wright e Ian Chesterton interpretados por Jacqueline Hill e William Russell. Este permaneceria o elenco fixo da série por toda a sua primeira temporada, tendo os Doutor, e seus companheiros. Durante os anos o Doutor teve vários companheiros de viagem, muitos voltavam para casa, outros decidiam permanecer em um nos novos mundos que conheciam, e alguns atém mesmo tendo sido mortos. O uso dos companheiros de viagem do Doutor era um recurso principalmente para que alguém no programa representasse o ponto de vista do expectador, fazendo perguntas e, mais tarde, causando problemas.

O segundo arco de histórias do programa seria o que finalmente capturaria a imaginação do publico, fazendo a série se infiltrar na consciência da população. Nele a série abandonaria a premissa de apenas viajar pelo tempo como forma educativa passando a explorar as possibilidades das aventuras também se passarem em outros mundos. Esse também seria o arco de histórias que marcaria o primeiro aparecimento dos maiores antagonistas do Doutor, os terríveis Daleks. Criados pelo roteirista Terry Nation e pelo Designer Raymon Cusick, os Daleks eram criaturas completamente não-humanoides, diferentes de tudo que já havia sido visto na televisão até aquele momento. O programa se tornou um grande sucesso, atraindo audiências frequentemente superiores a 12 milhões de expectadores, e os Daleks retornariam várias vezes no decorrer da série.
 William Hartnel interpretava um Doutor peculiar, e o personagem sofreu mudanças com o tempo, inicialmente um velhinho teimoso e mandão, logo o personagem amoleceu, se tornando mais próximo de seus companheiros de viagem, embora ainda fosse a perfeita figura de um avô rabugento (que na verdade tinha um grande coração). O Doutor logo se tornaria um ícone popular, especialmente entre as crianças que viam o programa.

Em 1965, no fim da terceira temporada da série, dificuldades começaram a aparecer; primeiro na mudança da equipe de produção, e segundo com a saúde do protagonista, William Hartnell começava a achar cada vez mais difícil se lembrar de suas falas devido aos primeiros estágios da arteriosclerose que causaria sua morte mais tarde. Mas mesmo isso não foi um obstáculo para o programa, o fato de Hartnell se tornar mais balbuciante e distraído, embora ruim para o ator, foi algo positivo para o personagem, tornando o Doutor um personagem ainda mais peculiar.(em muitas cenas o Doutor parava de falar e analisava o local onde estava minuciosamente antes de continuar, parecendo que tentava lembrar do que falava, isso deve-se ao fato de que Hartnell usava-se do mesmo recurso que Marlon Brando usaria mais tarde, escrevendo suas falas em pedaços de papel e espalhando-os pelo set de filmagem).

Entretanto em 1966, ficou claro que o estado de saúde de Hartnell começara afetar demais sua performance, e ele não seria capaz de continuar interpretando o Doutor por muito mais tempo. E quando Hartnell se aposentou coube ao ator Patrick Troughton assumir o manto de Senhor do Tempo.

Um Novo Doutor (Mas ainda o mesmo)

Innes Lloyd, produtor da série na época, e o editor Gerry Davis desenvolveram uma maneira interessante de mudar o ator principal sem mudar o personagem. Sendo um ser de outro planeta, eles decidiram que o Doutor teria a habilidade de mudar seu próprio corpo quando este se tornasse usado demais ou fosse ferido, tal processo seria conhecido por regeneração. E embora inicialmente a ideia fosse que o novo ator interpretasse o exato mesmo personagem, Lloyd e Davis decidiram que seria interessante mudar tanto a personalidade quanto a aparência do Doutor após a regeneração. 
 Escolhido como a nova encarnação do Doutor, o ator Patrick Troughton fez sua primeira aparição em Novembro de 1966, no fim da história The Tenth Planet, história que introduziu outros vilões que se tornaram extremamente populares, os Cybermen, que também retornariam em diversas ocasiões.


Enquanto o primeiro Doutor era rabugento e misterioso, agindo por vezes como uma espécie de avô que nos guia, o Doutor de Troughton estava mais para aquele tio divertido que aparece em festas fazendo truques, embora mantivesse muitas características de sua vida anterior como seu desejo de ajudar as pessoas e aversão pelo mal, o personagem se tornava mais excêntrico, e seus maneirismos mais cômicos e extravagantes.

Nas mãos de um ator menos talentoso que Troughton, aquele teria sido o fim da série, mas o segundo Doutor logo conquistou a audiência com seu jeito especial. Patrick Troughton era um ator experiente que normalmente interpretava papéis travessos ou cômicos, tendo sido Falstaff e Puck diversas vezes no teatro, e seu doutor tinha muito disso, um Doutor que não lutava, mas fugia, talvez a única versão do Doutor que realmente tinha medo dos monstros que encontrava, embora eventualmente reunisse bravura o suficiente para derrotá-los. Troughton usava suas feições levemente diabólicas (costumavam dizer que ele tinha o segredo da velhice eterna) para interpretar uma espécie de palhaço cósmico, não era assustador, mas também não era totalmente benigno. Era um doutor para a geração do “Flower Power”, e enquanto twiggy festejava e dominava as passarelas, o Segundo Doutor com seu corte de cabelo dos beatles assumia os controles da TARDIS com estilo.


Troughton permaneceu na série até 1969, não conseguindo lidar com o trabalho de estrelar em uma série regular achou melhor deixar o programa. O custo da série também tinha aumentado consideravelmente devido ao trabalho de construir cenários exóticos, objetos e fantasias cada vez que o Doutor visitava um novo local. A solução para reduzir os custos veio com a ideia de transferir as novas aventuras para a Terra, com o Doutor agindo como consultor científico para uma organição chamada UNIT (United Nations Intelligence Taskforce) que defendia a Terra de invasores alienígenas. Este novo formato foi introduzido na história da sexta temporada The Invasion, e foi estabelecida no fim da temporada quando mostram o Doutor sendo capturado por seu próprio povo, os Senhores do Tempo, e sendo sentenciado a um exílio na Terra bem como uma regeneração forçada como punição por interferir com os assuntos de outras raças. Throughton deixava a série no fim da sexta temporada e no fim dos anos 60, e também seria a ultima vez que o personagem seria visto em Preto e Branco.


A TARDIS


A TARDIS é o veículo que o Doutor usa para viajar pelo tempo e pelo espaço, e embora parece uma cabine de polícia Londrina do lado de fora (problema causado por uma falha no circuito de camuflagem) ela é muito maior do lado de dentro(o termo exato é dimensionalmente transcendental), possuindo inúmeros corredores, e salas (incluindo bibliotecas, piscinas, catedrais). A TARDIS do Doutor é um obsoleto tipo 40 que ele roubou ao fugir de seu planeta natal. Doctor Who está tão mesclado a cultura britânica que TARDIS é usado pelos ingleses como referência para qualquer coisa que seja maior por dentro do que aparenta do lado de fora. TARDIS é uma sigla e significa Time And Relative Dimension In Space
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Continua na Parte 2/8