Meu Malvado Favorito

por Rangel Andrade em agosto 19, 2010
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No Brasil aprendemos a amar o vilão Odorico Paraguassu com suas tramóias, neologismos, seu humor negro e até sarcástico em algumas ocasiões. Mas a literatura e o cinema estavam devendo a algum tempo uma história sobre vilões para o público infantil, o que chega ao fim com a primeira animação da Universal em parceria com a estreante Illumination Entertainment: Meu malvado favorito. O filme estreou nos Estados Unidos faturando muito acima do esperado e promete fazer o mesmo por aqui com uma história simples, mas acompanhada de uma excelente qualidade técnica.

Em um alegre bairro com casas que exalam beleza e bondade vive o excêntrico Gru, um sujeitinho que destoa de todos os moradores, não somente pelo seu carro auto poluente da camada de ozônio, nem por sua casa negra de grama morta ou pelo seu humor um tanto quanto negro (isso foi redundante!), mas sim pelo seu modo de se ver perante os vizinhos e o mundo.

Gru, já foi o maior e o mais terrível vilão de todos os tempos, mas seu vigor e sua idade já não são os mesmos e sua soberania acaba ameaçada pelo novo mal-feitor que pinta na área, o nada assustador Vetor, que no seu auge de sua vilanidade acaba por roubar as pirâmides do Egito e ameaça a hegemonia de Gru. Mas para provar que ainda é capaz de assustar alguém e fazer mal a humanidade Gru com a ajuda do Dr. Nefario e seu exército de Minions (bichinhos amarelos, atrapalhados e até amáveis) bolam o mais audacioso plano de todos os tempos: roubar a lua!

O problema é para roubarem a lua eles precisam de uma arma encolhedora de objetos que se encontra na casa de Vetor. Mas como entrar lá se ele mora numa fortaleza protegida por todos os lados? Gru descobre que o aspirante vilão têm uma queda por biscoitos e ele adota três garotinhas para que elas possam colocar na mansão de Vetor alguns robôs-biscoitos e assim roubar a arma. Mas o que ele não esperava era que as meninas fossem se apaixonar por ele e verem por trás de sua cara de vilão um pai em potencial.

O grande destaque do filme com certeza é arte que é capaz de construir uma cidade sem deixar faltar nada em seus pequenos detalhes, a imagem é clara e nítida e mostra que cada vez mais há uma preocupação com a construção das fotografias nos filmes de animação. A cena da montanha russa é feita na perspectiva de quem está viajando em um daqueles trenzinhos e chega a dar um frio na barriga. Mas com certeza o maior destaque da criação de arte é o Banco do Mal, as pilastras são sustentadas por estátuas de homens em posturas de pessoas que já trabalharam muito e são obrigadas a sustentar aquele peso todo (detalhe que tem uma que foi esmagada pela pilastra). Quando o personagem Gru entra no Banco do Mal pode ser lida, abaixo do nome da empresa, a inscrição “antigo Lehman Brothers”, numa clara brincadeira com o famoso banco de investimentos americano que pediu concordata em 2008

A trilha sonora é eclética ao extremo. E transita com facilidade entre a nossa “Garota de Ipanema”, “Copacabana”, de Barry Manilow, e o clássico “Sweet Home Alabama”, do Lynyrd Skynyrd. Ah! E como tem acontecido com frequência, não deixaram a discoteca de lado e sapecaram “You Should Be Dancing”, do Bee Gees, com direito a coreografia e tudo.

O produtor John Cohen afirma que: “ o personagem principal oferece uma noção de desejo realizado. Quando você está na fila do supermercado e a pessoa na sua frente tem 25 itens no caixa e resolve pagar com cheque, esse seria um momento perfeito para usar um raio congelante.” A graça de Gru reside justamente na possibilidade dele poder realizar tudo que nós desejamos fazer e não conseguimos.

O personagem, assim como o Odorico, é tão carismático que eu confesso que torci para que ele conseguisse roubar a lua e ficar com ela em sua casa se tornando o maior vilão do mundo! Um ótimo filme, não somente para crianças, que mostra o resgate de alguns valores e a transformação do homem diante de um olhar que lhe impõe significado e importância.