A Arte de Lidar Segundo as Mulheres
por Rangel Andrade em julho 9, 2010Um Comentário Publicado em Teatro
Com certeza a função de um diretor é de ir até o íntimo dos atores e resgatar suas dores, alegrias sofrimentos e joga-los em cena para que possam dar vida a outras personas que não sejam parecidos com eles, mas que utilizam daquele corpo criador para se apresentar ao público. Dessa forma conseguem convencer quem está na platéia e nos faz esquecer que existe uma mão criadora que sabe perfeitamente o que deve ser feito do início ao final da peça.
Essa é a segunda peça que assisto com a direção de Manoel Prazeres (a primeira foi em 2008 – A fruta e a casca) e uma particularidade dele é sua segurança para comandar seu time em cena, suas atrizes são de uma naturalidade e uma simplicidade em cena pouco vistas hoje em dia no teatro. Embora em alguns momentos estivessem mais preocupadas com a roupa do que com que estava sendo dito, dá para notar claramente o trabalho do diretor. Mas aí entramos em outra seara do trabalho teatral, quando parece que os atores não acompanham a ideia do mestre. Então é uma peça ruim? Não. Mas eu gostaria de ver aquelas mulheres vivendo mais o que estava sendo dito, em alguns momentos o texto era jogado fora (e por falar em texto, que belo texto é esse, mas é assunto para outro parágrafo), e não se via uma transformação das personagens do decorrer da peça: elas começaram altivas, bonitas e permaneceram assim até o final. O que contradiz o texto que mostra mulheres em busca de um objetivo e que em alguns momentos são frágeis, seguras, autoritárias e que se transformam com a chegada de um nova moradora. O que é natural em qualquer camada da sociedade, a transformação é inerente ao ser-humano, somos transformados a todo momento.
O texto é de Manoel Prazeres, e o grande desafio ao escrever esta peça é justamente fazer algo inspirado na vida de Leila Diniz sem ser biográfico ou melodramático ou levantador de uma bandeira ao falar da vida de uma mulher que lutou pelos seus direitos. O que temos é um texto muito simples, realista e minimalista que fala pelas entre-linhas e que coloca três mulheres frente-a-frente com seus desejos, vontades e incertezas. Temos uma protagonista que como Leila, deseja ter seu espaço respeitado e não admite invasões em sua privacidade; para bater de contra seus ideais está uma irmã mimada que vê no casamento a salvação para viver uma vida sossegada e tranqüila, a mãe das duas é senhora “chique”(sem comentários para o figurino) e amargurada que só reclama do marido e da nova moradora, uma prima que veio de São Paulo para ensaiar uma peça no Rio.
É um texto que fala de relacionamentos, transformações, aceitações e sonhos. Mulheres, que mesmo conformadas com a situação em que vivem em algum momento resolvem dar a volta por cima e recomeçar de novo. Bons diálogos, boas reflexões em um momento tão difícil onde o teatro no Brasil se torna mais comercial que criativo.
A idéia original da peça nasceu em 2008 quando a atriz Paola Castilho lia o livro Toda mulher é meio Leila Diniz, de Mirian Goldenberg. A atriz afirma que encontrou algumas semelhanças entre sua história e a da atriz já falecida. Voltando ao Brasil, logo após uma viagem ao exterior ela se juntou a Sônia Tinoco, Helena Varvaki e Manoel Prazeres para dar asas ao projeto. E dessa parceria nasceu um texto que tem o poder de mostrar como as mulheres são sarcásticas ao lidar com as diferenças e igualdades do ser humano, mesmo que esse humano seja uma MULHER.
Serviço
Sesc Rio Casa da Gávea
Praça Santos Dumont 116 sobrado, Gávea,
Sem acesso para cadeirantes
Sextas e sábados – 21h, domingos – 20h
Estreia dia 4 de junho
Temporada até 11 de julho
R$ 15,00 (meia-entrada) e R$ 30,00 (inteira)
Capacidade: 80 lugares
Bilheteria: de segunda a sexta a partir das 10:30h,
sábados e domingos a partir das 17:30h
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 60 minutos