Homem de Ferro 2

Toda sequência de filmes que foram sucesso de público e crítica enfrenta dois grandes problemas ao serem lançados: o primeiro deles é conseguir manter o mesmo ritmo inaugurado pelo seu predecessor e o segundo e mais difícil é criar novos interesses para prender a atenção do espectador e fugir da sina de ser apenas mais uma sequência. E, em se tratando de adaptações de quadrinhos de super-heróis, a coisa só tende a ser mais grave. Poucos conseguem tal feito, e se não derrapam no segundo filme, fatalmente descambam no terceiro. Exemplos têm aos montes: Desde o fiasco Demolidor, que sequer passou da primeira tentativa, ao Homem-Aranha, que garantiu uma continuação à altura e enterrou a franquia no terceiro e os próprios X-Men que, se não decepcionaram também não atenderam às expectativas. De Wolverine, cuja sequência já está sendo planejada, é melhor nem falar. Dos bons exemplos, temos Batman Begins, nova franquia do Homem-Morcego e, The Dark Knight, sua sequência pra lá de boa (The best Joker ever!) e, agora, Homem de Herro II, filme que continua a saga do latinha nos cinemas.

Novamente sob a batuta de Jon Favreau, o filme consegue se manter muito bem, obrigado! durante suas quase duas horas de exibição. Além de continuar fazendo bom uso dos elementos apresentados no primeiro filme — como a inconstância do protagonista, sua aura de anti-herói e o frenesi de sua vida de playboy — a produção enfoca novas e interessantes situações que só acrescentam à história, como sua (nova) relação de interesses com Pepper Potts e com James Rhodes, a euforia causada pela revelação ao público da identidade do herói e as consequências decorrentes disso, além de um vilão que, pertencendo a senda do fantástico, consegue se manter absurdamente humano durante todo o filme.

No papel de Ivan Vanko, Mickey Rourke é um show a parte. Sem os exageros típicos dos vilões das HQs e seus sonhos grandiloquentes de dominação mundial, Vanko quer apenas uma vingança “justa” contra aquele que acredita ser o responsável pela desgraça de seu pai e, por consequência, da sua própria. Algo que, em certa altura e comparativamente às atitudes egoístas e desastrosas do herói, chega até a soar permissível, despertando em nós certa “compaixão culposa”.

Tony Stark, por outro lado e num dualismo interessante com seu alterego, nada tem de heróico ou mesmo de “ferro”, no sentido mais amplo da palavra. Seu herói é falho, passível dos mais absurdos erros, arrogante, e o pior — em se tratando da posição que ora ocupa, como defensor nacional — tornou-se alvo da descrença geral. Aquilo que o salvou no primeiro filme (o dispositivo acoplado em seu peito), neste o envenena, matando-o aos poucos.

Enquanto ele se vê às voltas com as artimanhas do governo e tenta defender seu império tecnológico das garras da “Grande Águia Americana” — além de manter o controle sobre a mais evoluída tecnologia bélica do mundo, representada pela armadura — outra luta, particular e bem mais séria, é travada na mente do herói. Favreau consegue criar uma situação interessante em meio a este dualismo “contra todo o mundo, mas especialmente contra mim” e Robert Downey Jr. consegue responder à altura. A “batalha entre amigos” é outro ponto forte do filme. James Rhodes, agora vivido pelo ator Don Cheadle (que substitui Terrence Howard com competência), ao ver o estado do amigo que, em dado momento se embebeda a ponto de, literalmente, molhar a armadura, se rebela contra esse estado de decadência e tenta trazê-lo de volta à razão, todavia sem muito sucesso. Falho a possibilidade do diálogo, vamos aos punhos — e, neste caso, estamos falando de dois punhos de ferro.

Discorrer sobre efeitos especiais, aqui, seria redundante e a sequência que traz a guerra das armaduras no final do filme mostra que a linha que ainda separa o que é real e o que é fantástico anda cada vez mais tênue nas telas dos cinemas.

Seguindo a política de interligação de suas produções, que culminará com o aguardado filme dos Vingadores, Homem de Ferro 2 traz uma batelada de referências ao Universo Marvel. Desde a participação especial de Nick Fury, o homem por trás da SHIELD (espécie de supercia do universo das HQs), que apresenta a um surpreso Tony Stark uma sugestiva pasta de arquivos chamada “Iniciativa Vingadores”, e de Natasha Romanov, a Viúva Negra — numa das sequências de luta corpo-a-corpo mais interessantes que vi nos últimos tempos —, o filme ainda traz a aparição mais do que explícita do escudo do Capitão América (cujo filme, Captain America: First Avenger está em produção) e a aparição rápida da arma de um certo Deus Nórdico do Trovão.

Aliás, fica a dica: não tenha pressão em deixar a sala de exibição quando os créditos começarem a subir tela acima. Se você for paciente, os 32 segundos finais de projeção não vão te decepcionar. Juro!

Homem de Ferro 2 é o típico filme que, uma vez tendo o antecessor encontrado o caminho certo, apenas acrescentou mais uns três ou quatro tijolinhos e se manteve firme na mesma estrada. Uma prova de que se a Marvel continuar desenvolvendo bons projetos, o cinema de super-heróis ainda vai ter uma longa vida pela frente.