Criação – Charles Darwin… origens
por Bruno Accioly em março 6, 20103 Comentários Publicado em Cinema
Paul Bettany encarna Charles Darwin no filme de Jon Amiel, como sempre fazendo um sólido trabalho de atuação, muito embora o passo do filme torne um tanto massante tanto a doença do pai quanto sua melancolia acerca da morte de sua filha Annie.
O público de um filme como “Creation” fatalmente é um entusiasta dos méritos da Ciência e um interessado em saber mais sobre a criação do livro “A Origem das Espécies”. O filme, contudo, falha em saciar esta sede deste público de nicho, enquanto é bem sucedido em traçar paralelos entre a morte de sua filha, Annia, instigou-o a perder a fé e motivou-o a transformar seu livro em uma forma de vingança contra Deus.
Seja ou não um fato que residia aí tal motivação, o filme descreve um arco de história coerente e convincente, que faz o espectador sentir a profunda angústia de Darwin antes, durante e depois do falecimento da personagem magnificamente bem retratada pela adorável estreante Martha West.
Embora esbarrando em alguns tantos clichês impostos pelo roteiro de John Collee e em alguma medida pelo texto original Randal Keynes, Jennifer Connelly está como sempre competente na pele de Emma Darwin, a esposa de formação e fé Cristã inabalável, receosa pelas idéias do marido e vacilante em aprovar o término do trabalho.
O eternamente subestimado Jeremy Northam, no papel do Reverendo Innes, faz um sólido trabalho, pontuando importantes cenas com o toque essencial que equilibra a falta de fé de Darwin com as necessidades humanas em acreditar em algo.
A bela música de Christopher Young acaba por destinar a narrativa a um tom um tanto plácido demais, o que não depõe contra a música mas pode levar o espectador a uma certa situação de desconforto com o desenrolar quase monótono do filme.
Sem sombra de dúvidas, contudo, o trabalho de Martha West, no papel de Annie, acaba por roubar a cena quando, nas memórias de Charles Darwin, a menina lhe pede que conte histórias reais acerca de suas viagens e suas pesquisas científicas. Em particular, a história da orangotango Jenny é profundamente tocante e serve como importante instrumento para a coesão narrativa.
Não se trata enfim de um filme empolgante ou cheio de informações interessantes sobre o processo criativo de Darwin de “A Origem das Espécies”, mas é uma interessante visita – em velocidade de cruzeiro – pelo aspecto emocional que permeou a dificuldade do cientista em concluir sua obra.
Talvez valesse a pena não chamar o filme de “Creation”, mas manter o título do texto original, “Annie’s Box”.