Life Unexpected: a grande novidade no midseason da CW

Imagine: você fica grávida aos dezesseis anos e, sem conseguir encarar a responsabilidade, dá sua filha para adoção. Dezesseis anos depois ela bate à sua porta, querendo a emancipação porque nunca foi adotada. Situação difícil, para dizer o mínimo. Pois esta é a premissa de Life Unexpected, série da CW americana que estreou por lá em janeiro e ainda não aterrisou por aqui.

Nesta história, Lux (Britt Robertson) é a filha que, depois de 15 anos esperando por pais adotivos sem sucesso, quer sair do sistema de adoção dos EUA e tocar sua vida sozinha, depois de sofrer nos lares adotivos – nos EUA, crianças esperam adoção em lares de voluntários, que recebem dinheiro por cada criança que hospedam. Para conseguir sua independência Lux precisa se emancipar, e a única maneira é com o consentimento de seus pais biológicos, uma vez que eles nunca perderam oficialmente o vínculo com ela. Lux localiza seu pai, Nate Bazile (Kristoffer Polaha), um adulto que ainda vive como adolescente em um loft acima de seu negócio próprio, um bar. Através dele, ela chega à sua mãe, Cate Cassidy (Shiri Appleby), uma famosa apresentadora de rádio que acabou de ficar noiva de seu co-apresentador, Ryan Thomas (Kerr Smith).

Depois de encararem a surpresa e a culpa por Lux nunca ter sido adotada, Cate e Nate precisam decidir o que fazer a respeito da menina. Mas quem decide mesmo é uma juíza: ela não emancipa Lux e dá a guarda conjunta da menina a seus pais. A partir daí, Life Unexpected mostra adultos auto-centrados que precisam aprender a ser pais, e uma adolescente acostumada a não dar satisfações que precisa aprender a ser filha.

Life Unexpected é uma tentativa da CW de voltar a oferecer conteúdo voltado para a família. Séries deste tipo eram marca da The WB, rede de Gilmore Girls, Dawson’s Creek e Seventh Heaven que se juntou à UPN para formar a CW, em uma tentativa de competir de igual para igual com as grandes ABC, CBS, NBC e Fox. Estes programas tinham em comum textos leves, situações envolvendo pais e filhos e, apesar de voltados para adolescentes, atraíam uma audiência de todas as idades. Depois de falar por muito tempo apenas com os adolescentes, com séries como Gossip Girl e 90210, a CW busca agora diversificar seu foco.

Não é à toa que LU esteja sendo frequentemente comparado a Gilmore Girls. Admito que ainda não enxerguei a semelhança. Onde as garotas Gilmore eram sarcásticas, com diálogos afiados e uma narrativa bem construída, vejo Lux tentar ser sarcástica, alguns diálogos perigosamente próximos do melodrama e situações que acontecem rápido demais. Um exemplo: desde a primeira cena você sabe que Cate e Nate irão dormir juntos, é um desenvolvimento já esperado. Mas isso acontece logo no primeiro episódio, sem dar tempo para que se crie um laço entre telespectador e personagens que daria mais significado ao momento.

Além disso, com cinco episódios já vistos, ainda não consegui decidir de quem eu gosto menos: Lux ou Cate. Em alguns momentos Lux pode ser muito irritante; em outros, Cate consegue levar o troféu. Dá para entender o lado de ambas: Lux não está acostumada a ter alguém que queira cuidar dela; e Cate, como nunca cuidou de ninguém, não sabe quando parar. Ainda assim, algumas situações criadas parecem forçadas, inverossímeis até, e acabam por colocar ambas sob uma luz não muito favorável. Mas pelo menos uma dessas situações foi responsável por uma ótima cena entre Shiri Appleby e Britt Robertson, então tudo bem.

Isto, aliás, resume bem meus sentimentos em relação a LU. É bem claro que a série tem alguns pontos em que precisa melhorar mas, no geral, ela é divertida de assistir e acaba sendo envolvente. O elenco é o grande responsável por isso. Shiri Appleby, de Roswell, está muito bem, variando entre a popstar do rádio e a nova mãe desesperada e com um bom apoio de Kerr Smith, veterano da The WB em Dawson’s Creek. Já Britt Robertson ainda não me convenceu, mas acho que meu problema com Lux tem mais a ver com o texto do que com sua interpretação. O grande destaque, no entanto, é Kristoffer Polaha, um veterano de pequenas participações em séries de TV, que está completamente à vontade na pele de Baze. Ele traz o carisma à série, e como Baze conquista todas as pessoas à sua volta, quem está assistindo também não escapa de seu charme.

A verdade é que, por enquanto, Life Unexpected conseguiu prender minha atenção. Mas não vejo isso indo muito longe enquanto as protagonistas femininas não ficarem menos histéricas e mais simpáticas. Também espero ansiosamente o momento em que os roteiristas irão parar de criar situações para gerarem conflitos forçados.