2 Irmãos e a Garota de Rosa Shocking

Kátia Jórgensen é uma das fundadoras da Cia. dos Atores Invisíveis e mantém o blog/podcast Luz&Sombra

2 Irmãos e a Garota de Rosa Shocking

Lev, Boris, Érica. Três personas interessantíssimas. Um triângulo. Seria pouco dizer um triângulo amoroso. Está mais para um círculo, um ciclo de idas e vindas de três vidas perdidas tentando se achar no meio da bagunça.

Quando entramos no espaço do SESC Copacabana (multiuso), somos surpreendidos por uma confusão de imagens e sons que representam perfeitamente o estado dos três personagens no começo do espetáculo.

Aos poucos vamos nos sentindo dentro daquele apartamento colorido e encantador. Pablo Sanábio nos apresenta um vivo e presente “Lev”, cheio de conflitos, sem ser óbvio. O ator consegue dar a mão perfeita na interpretação naturalista mas não tão despojado a ponto de desperdiçar a arte do ator. Diogo Benjamim é Boris, um rapaz fechado e metódico. O ator mostra grande disponibilidade de jogo com os outros atores.Ana Lima é Érika, uma garota inconseqüente e sedutora. A atriz esbanja seu talento cômico sem exagerar no clichê da mulher vulgar, levando a personagem para o patético da superficialidade feminina.

O cenário é uma grande instalação do artista plástico Alberto Renault : um dos pontos fortes do espetáculo. É visualmente interessante e muito bem utilizado em cena (poderia ser só ilustrativo mas não é). A instalação é realmente a casa daqueles três jovens , numa versão estilizada. Ainda fazendo parte da instalação , a iluminação é bem informal e só ilumina o necessário. É operada pelos próprios atores , em cena : uma jogada interessantíssima que nos aproxima muito dos personagens. A mesma regra é aplicada para algumas músicas executadas na trilha sonora. Os momentos em que a música rola quando os atores apertam o play são vivos e nos fazem esquecer que estamos assistindo a uma peça.

A trilha sonora é bem coerente com a estética cool do espetáculo. Versões charmosas de Clássicos como Beat it de Michael Jackson e de novos Clássicos como Tóxic de Britney Spears dão o tom contemporâneo, que, “diga-se de passagem”, é ironicamente totalmente anos 80/90. A direção da dupla Michel Blois e Cynthia Reis é inteligente e dinâmica. Os atores seguem um tom extremamente naturalista e leve em contradição com o texto forte e cruel . Essa interpretação nos leva a acreditar até um certo momento do espetáculo que a peça trata-se de uma história sutil e engraçada, porém do meio para o final vamos nos surpreendendo com as máscaras dos personagens caindo e revelando suas verdadeiras intenções. Vamos sendo conduzidos, sem perceber – quase que “de brincadeira”- por uma história densa e dramática. O lúdico dá lugar ao trágico e só percebemos quando o espetáculo acaba e somos obrigados a entender o quanto todos nós vivemos entre seres hipócritas e bonzinhos.

Óculos coloridos, sunquíni, rosa shocking, all star e muito charme são os ingredientes desse caldeirão de criatividade e bom gosto que é o espetáculo “Dois Irmãos”.

Serviço

Direção: Michel Blois e Cynthia Reis
Elenco: Ana Lima, Pablo Sanbio e Diogo Benjamin
Cenário/Instalação: Alberto Renault
Local: SESC Copacabana
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160
Dias: Sexta, Sábado e Domingo
Horário: 20 horas (Domingo às 19 horas)
Custo: R$ 8
Fim da Temporada: 21 de Dezembro de 2008

Kátia Jorgensen

Cia. de Atores Invisíveis

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