“Conversas com Woody Allen”

“Conversas com Woody Allen: seus filmes, o cinema e a filmagem”

Woody Allen, de quase 73 anos, é indubitavelmente uma das figuras mais peculiares e marcantes de Hollywood há quatro décadas. Seu trabalho como roteirista e diretor é largamente apreciado por crítica e público, o que já lhe rendeu nada menos que 21 indicações ao Oscar (14 de Roteiro Original, 6 de Diretor e 1 de Ator), sendo vencedor três vezes, como diretor de “Annie Hall”e pelos roteiros de “Annie Hall” e “Hannah e Suas Irmãs”. Além disso, já foi nomeado a um total de 136 prêmios (mais que Charles Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd juntos!).

Sendo um dos mais respeitados e prolíficos diretores da industria cinematográfica, é também uma figura controversa e polêmica. Lançou praticamente um filme por ano desde 1969, e se recusa a ver qualquer um deles após terminado. É amado por todas as atrizes com quem trabalha, mas após seu divórcio com Mia Farrow (com quem tinha três filhos, sendo dois adotados), teve que brigar na justiça pelo direito de ver os filhos (conseguiu apenas o direito de ver o filho biológico, e mesmo assim sob supervisão). Só foi à cerimônia dos Oscars uma vez, em 2002, para pedir aos diretores que continuassem filmando em New York, cidade que ama e ambienta a maioria das suas produções, após os atentados. Quase nunca entrega a trilha sonora de seus longas a algum compositor, preferindo escolhê-la de sua própria discografia pessoal. Nomeado um dos maiores comediantes de todos os tempos, deu uma guinada e recentemente passou a criar filmes com conteúdo mais dramático, como “Match Point” e “Um Sonho de Cassandra”. Tem a habilidade ímpar de fazer seu público se apaixonar por seus personagens – especialmente quando interpretado por lindas atrizes escolhidas a dedo, muitas das quais se tornam suas musas.

Como melhor conhecer uma figura aparentemente tão inescrutável? Simples – através do livro “Conversas com Woody Allen: seus filmes, o cinema e a filmagem”, recém-lançado nas livrarias do país. Ele reúne entrevistas concedidas por Woody Allen a Eric Lax, jornalista que ao longo de 36 anos mantém um relacionamento duradouro com o cineasta – desde que foi apontado para traçar um perfil de um “jovem comediante” de New York, no início da década de 70.

O livro, com mais de 500 páginas, traz declarações de Woody Allen sobre os mais diversos temas, incluindo suas influências, seu método de trabalho e suas musas, sempre presentes em seu trabalho, como a já citada Mia Farrow e a atual Scarlett Johansson, que está em destaque em seu mais novo filme, o ótimo “Vicky Cristina Barcelona” (https://outracoisa.com.br/2008/11/13/vicky-cristina-barcelona/), já nos cinemas brasileiros.

Como o próprio diretor fala sobre seu trabalho, “Ah, e às vezes eu consigo sair com uma das atrizes. O que poderia ser melhor? Escapei para uma vida no cinema do outro lado da câmera, mais que para o lado da platéia. É irônico eu fazer filmes escapistas, mas não é o público que escapa – sou eu”. Para qualquer fã do famoso cineasta, é um prato cheio!

Curiosidade: Só para deixar o público com um gostinho na boca, Lax chega a perguntar a Woody se ele concorda com a velha máxima de que o diretor precisa se apaixonar pela atriz através da câmera para que o público também se apaixone. A resposta foi simplesmente “Eu me empenho muito em determinados filmes para ter certeza que estou apresentando a atriz para o público do jeito que imaginei. Me dediquei muito à Christina Ricci em “Igual a tudo na vida”. Fiz a mesma coisa com a Scarlett [Johansson] em “Match point”. Refiz três vezes a cena em que a Scarlett encontra o Jonathan Rhys Meyers na mesa de pingue-pongue. É o primeiro momento em que o público a vê, e a tomada determina de imediato a beleza e a perigosa sexualidade dela, que são centrais na história. Mudei o cabelo dela, mudei a roupa, mudei o jeito de filmar, eu e o câmera conversamos a respeito. Mas para mim era muito importante apresentar a visão dela do jeito como eu sentia aquela personagem. Então eu me empenho muito nisso, sim. (…)”.