“Ooru”, de Jun Hanyunyuu

“Azul”, no bom português, o mangá que foi lançado nas bancas pela Editora Conrad é uma leitura incomum para muitos dos leitores mais assíduos de quadrinhos. Mangás começam de trás para frente, a ordem de leitura é o contrário da nossa, é complicado de se situar mas, não tem como negar, a quebra da rotina mental propiciada pela leitura de um mangá acaba desarmando o leitor, sobretudo porque a cultura retratada nas páginas desenhadas não têm tanta referência na nossa cultura.

O leitor de primeira viagem vai sofrer um pouco, mas “Ooru” é uma história envolvente, com uma pegada inocente que prende a atenção e uma falta de pudor de enrubescer o marmanjo mais descolado.

O enredo é curiosamente lisérgico e cheio de referências, voluntárias ou não, a uma perversão do desejo de potência, de Nietzsche. A narrativa visita a loucura de Kôzô Sanou, um mangaká – ou autor de quadrinhos (em japonês) – e imerge na perspectiva de Takeshi Antai, um editor de quadrinhos que busca o grande mestre dos mangás para criar uma nova revista.

Tendo de lidar com medos, violência e com a consequência de seus atos, os dois vão descrevendo uma parábola de sangue, remorso e desespero enquanto montam uma alegoria absurda do modo como se vive no mundo e do modo como a truculência dele faz parte hoje em dia.

Se folheando “Ooru” atentamente e como símbolo ele se torna mais interessante, lendo-o sem tanto compromisso rende também algumas boas horas de diversão.

O autor de “Ooru”, mangaká Jun Hanyunyuu, foi responsável também por “Koi No Mon”, que foi adaptado no cinema através de “Otakus in Love” – selecionado pelo Festival de Veneza de 2004.

Jun Hanyunyuu é um dos mangakás mais cultuados do Japão. Antes de desenhar Ooru, foi autor do mangá “Koi No Mon”, que ficou ficou conhecido no Ocidente pela sua adaptação cinematográfica (IMDB), selecionado em 2004 para o Festival de Veneza. O estilo de Hanyunyuu é influenciado tanto por mestres do mangá como Yoshihiro Yamada quanto pelo pintor expressionista austríaco Egon Schiele, fugindo da estética mais convencional do mangá.

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