Medesky Martin & Wood no Canecão

“O jazz está morto. É música de museu.” foi a famosa declaração em 1975 que provocou toda uma onda de revolta e indignação. E quem anunciava o fato era Miles Davis, um de seus filhos mais diletos, um experimentador que em sua longa carreira reorientou por pelo menos três vezes os rumos desse gênero musical. Como se não fosse suficiente, passa a brincar com o rock, fascinado pelo som de Hendrix.

É algo como se Paulinho da Viola dissesse que o samba morreu e lançasse um disco de rap.

Mais de três décadas se passaram. A debacle continua. Dizem que, se não morreu o jazz mudou de endereço. E Wynton Marsalis é o arrimo de família que ainda cuida do ainda moribundo que, como o samba, agoniza mas não morre. Marsalis faz o que pode. Tem rara musicalidade e é um legítimo virtuose cujo talento extrapola em muito o gueto. Quem tiver qualquer dúvida que ouça o ótimo .

Mas o momento social que gestou a música de improviso americana, tocada por negros nos guetos de New Orleans passou mesmo. A sociedade é outra, o posicionamento daquele grupo étnico também. Mudou o espaço que ocupam e, junto, suas demandas existenciais. Sua música não é mais exatamente sua. Jazz é um gênero maior que o gueto. Deve mesmo ter mudado de endereço.

O mais descolado grupo de jazz do momento é Medesky Martin & Wood. É uma banda de brancos de New York. Mistura influências de rock, rap, hip-hop, funk, raggae e samba em um groove que move até o mais careta dos quadris. A formação é um clássico: um piano-trio onde John Medeski fica com as teclas, Chris Wood com os baixos e Billy Martin na bateria/percussão. E o trio é uma experiência sonora diferente a cada disco. São flertes em todas as direções musicais com uma incrível personalidade musical.

São fortes as influências brasileiras na música do grupo. Hermeto’s Daydream do álbum Notes from the Underground (1995) cita nosso grande instrumentista. O álbum The Dropper (2000) é todo recheado de sonoridades brasileiras como cuícas, surdo e berimbau além da faixa Partido alto. E Cachaça é uma das faixas de Out Louder o excelente album de 2006.

Mas não são só influências extrínsecas ao jazz que formam o show da banda. Quem curte Thelonious Monk, John Coltrane, Sun Ra e Albert Ayler vai reconhecer suas vozes pelas experiências do MMW.

Clique para download da faixa "Free go Lily" do novo álbum Radiolarians 1O  trio tocou pela primeira vez no Brasil na edição 1999 do extinto Free Jazz. Dificuldades técnicas desfalcaram o órgão Hammond de John Medeski, uma das mais fortes impressões digitais da banda. Foi um show morno que acabou por não apresentar propriamente o então desconhecido grupo ao público brasileiro.  O grupo voltou a tocar no Brasil em 2006. Foi em São Paulo e foi considerado um dos melhores do ano.

Paulistas e cariocas têm agora a chance de ouvir o mais recente show da banda. Serão quatro shows em setembro. Dia 18 no Bourbon Street Music Club, 19 no Canecão Petrobras e 20 e 21 no Sesc Vila Mariana. É oportunidade imperdível para se ouvir ótimos grooves, balançar o esqueleto e conferir se o tal do jazz vive.