Uma Semana sem o Paissandu
por Lucas Sigaud em setembro 8, 2008Zero Comentários =( Publicado em Destaque
Completa hoje uma semana que um dos cinemas mais tradicionais do Rio de Janeiro, o Estação Paissandu, no Flamengo, fechou suas portas. Por falta de patrocínio (e, sendo sincero, por público insuficiente) para mantê-lo, mais um cinema de rua encerra suas atividades, tornando os cinéfilos cada vez mais reféns dos shoppings (para corroborar essa opinião, correm os rumores – cada vez mais concretos – de que o também tradicional Palácio será o próximo).
O Paissandu é uma das casas de maior renome justamente pela sua história: foi fundado em 1960 e, após a parceria entre a Franco-Brasileira (empresa que o geria) e a cinemateca do MAM, nele passavam-se filmes autorais de diretores alternativos, como Godard, Antonioni, Truffaut e Pasolini, entre outros – e um grupo de jovens cinéfilos e intelectuais de esquerda dos anos 60 encontravam nestes filmes (símbolos marcantes da contracultura) mais uma expressão de seu descontentamento com o regime militar, fromando assim a “Geração Paissandu”. Tanto que, no fim de semana que antecedeu seu fechamento, o Paissandu exibiu a mostra “Clássicos Paissandu”, justamente focada em longas que marcaram esse importante momento de sua história (de nomes como, além dos já citados, Bergman, Rohmer, Fellini, Bertolucci, Cassavetes, Costa Gravas, etc.).
Mas o mais triste é perceber que esta é uma tendência inexorável: o cinema de rua está acabando. Naturalmente alguns baluartes ainda persistem teimosamente (exemplos claros são Leblon, Roxy, Odeon, Estação Botafogo, Espaço de Cinema e o recente – surpresas acontecem! – Unibanco ArtePlex), mas são tantos que vêm sendo fechados anualmente que é fácil perder as esperanças.
E nem é por falta de tentativa – o próprio Paissandu sofreu uma reforma custeada em cem mil reais em janeiro deste ano, na esperança de surgir um patrocinador. Até mesmo dividir o espaço em duas salas de cinema (a fim de aumentar o faturamento) foi sugerido como proposta para possíveis patrocinadores, mas o resultado continuou sendo negativo.
E analisando de forma desapaixonada, não é difícil compreender a preferência do público por cinemas localizados em um lugar que ofereça a comodidade, a praticidade e a segurança (além de estacionamentos e restaurantes) encontradas em shoppings. Apenas aqueles apaixonados por essa tradição (que promove o comércio de rua, tão salutar para a cidade) lamentam.
Resta a esses poucos continuar freqüentando as salas off-shopping, e usar as poucas armas que nos resta. Há uma petição online contra o fechamento do Paissandu, com mais de 6200 assinaturas. A minha já está lá – e a sua?
Curiosidade: ironicamente, há um bairro no Rio de Janeiro – a Cinelândia – nomeado justamente pela quantidade de cinemas (de rua, naturalmente) no local.