“O Reino Proibido”

O filme vem sem o alarde que provavelmente merecia. Eu esperaria mais fogos de artifício já que se trata da celebração de um gênero que conquistou um sem número de jovens na década de 60, 70 e 80.

Mesmo com o hiato da década de 90, quando o ocidente começou a tentar empacotar o sucesso dos filmes junto a demografia que os originais atingiam, o gênero persistiu nos canais de menor audiência e no coração dos ex-jovens que iam envelhecendo e lamentando o que havia sido feito com aquilo que gostavam.

Quem foi contemporâneo de Bruce Lee, acompanhou o surgimento do Jet Kune Do, viu o surgimento do Chun Kuk Do (de Chuck Norris) e acompanhava filmes chineses antigos quando ainda passavam na Globo, teve a oportunidade de viver um momento mágico, em que Arte Marcial era mais um conceito romântico na cabeça do ocidental que qualquer outra coisa.

Hoje, com as artes marciais sendo já mais um elemento da cultura pop, graças a filmes como “Matrix”, “O Tigre e o Dragão” e “Kill Bill”, o cenário em que “O Reino Proibido” surge é bem menos inóspito que já foi.

“O Reino Proibido” coloca frente a frente duas lendas das películas de Kung Fu, um cinqüentão e um quarentão que, juntos, mantiveram acesa a chama dos “filmes de luta” no ocidente, neste início de século.

Jet Li e Jackie Chan, cada um a seu modo, seguraram o que alguns já chamaram de “as alças do caixão dos filmes de Kung Fu”, equivoco claro de quem não acompanhou o gênero de filmes mais antigos, como “Big and Little Wong Tin Bar” e “Shaolin Si” até “A Hora do Rush 3″ e “A Múmia 3″.

Não se trata de dramaturgia cinematográfica clássica e quem espera isso de “filmes de luta” só tem a perder. Trata-se de uma plasticidade, de uma proposta estética e de uma narrativa-do-movimento que não difere em tanto da abordagem subjetiva que a dança tem quando com ela se tenta contar uma história.

Pérolas como “O Clã das Adagas Voadoras”, “O Trigre e o Dragão” e “Herói” são, de fato, raras, e convergem para um estilo hollywoodiano de fazer as coisas que vem acrescentando muito ao gênero.

Em “O Reino Proibido”, contudo, houve o cuidado de balancear a mitologia das artes marciais com a visão americana da Saga do Herói para construir uma fábula moderna que revisita a tradição de filmes antigos sem dificultar demais ao espectador tradicional de produções americanas.

A homenagem é clara desde a vinheta inicial e nada mais razoável que colocar um jovem americano como Michael Angarano (mais um talento jovem da geração de Shia LaBeouf) para viver o adolescente Jason Tripitikas, obcecado pelos clássicos de Kung Fu que encontrar o bastão do Rei Macaco (vivido por Jet Li) e que viaja 500 anos no passado para tentar devolvê-lo, com ajuda do mestre Lu Yan, versado no estilo Zuì Quán (“Punhos Ébrios”, em português).

Em sua jornada de auto-conhecimento e aprendizado do Kung Fu, Jason descobre a essência do Wu Shu, que tem muito mais a ver com o trabalho levado à perfeição do que com a habilidade de desferir sopapos com eficiência.

Junta-se ao grupo a beleza delicada de Crystal Liu Yi Fei, que vive Golden Sparrow e o “Monge Silencioso” (Jet Li), este último responsável por uma das mais memoráveis seqüências de luta da história do cinema junto com Jackie Chan, ambos exibindo sua forma inacreditável e os movimentos quase didáticos do Kung Fu Clássico.

O roteiro de “O Reino Proibido” se baseou nas lendas relativas a peregrinação do Monge Budista Tang Sanzhuang para a Índia (“Jornada para o Oeste”) que, na Dinastia Tang, tencionava obter as escrituras budistas (as mesmas lendas nas quais se baseou o desenho “Dragon Ball Z” aliás), o que não impede o roteiro de fantasiar e misturar lenda, história e ficção, invocando personagens de mitos chineses e emprestando-os de filmes anteriores que mereceram a homenagem.

As preocupações barrocas com o roteiro e cenografia não foram para menos. Jackie Chan e Jet Li são importantes figuras representantes deste gênero de filme, que sobreviveram a todas as intempéries cinematográficas e se mantiveram notórios e atuantes contra todas as expectativas. Em seu primeiro trabalho juntos conseguiram construir um filme lisonjeiro para o Kung Fu ao mesmo tempo que divertido para um público moderno.

Se você aprecia o Kung Fu, “filmes de luta”, películas aventura, ou simplesmente quer sair para se divertir bastante, “O Reino Proibido” é altamente recomendável para você, para a pessoa de quem você gosta e para os pequeninos!

Hoje, dia 29 de Agosto, nos cinemas!

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