“Reflexos da Inocência”

O novo filme com Daniel Craig nada tem a ver com James Bond – “Reflexos da Inocência” (IMDB – título até mais poético do que o original, “Flashbacks of a Fool”), produção britânica que estréia sexta-feira nos cinemas, é um filme parado, sensível, focado nos sentimentos e relações entre os personagens, em vez da ação costumeira de filmes com Craig (além do citado espião, Craig também interpretou Steve em “Munich” IMDB, Lord Asriel em “A Bússola de Ouro” e Alex West em “Lara Croft: Tomb Raider” IMDB).

O filme, escrito e dirigido por Baillie Walsh (em apenas sua segunda incursão nas telonas – antes disso, escreveu e dirigiu o elogiado “Mirror, Mirror” – IMDB – em 1996!), tem uma edição curiosa, às vezes rápida, às vezes lenta, com longos closes, enfatizando os conflitos pessoais do personagem principal, Joe Scott (Daniel Craig) – um ator hollywoodiano rico e decadente, que sofre um baque com o anúncio da morte de seu melhor amigo de infância Boots, e que o faz repensar toda a sua vida, em especial alguns eventos ocorridos anos antes (o “flashback” do título original), os quais modificaram as suas vidas.

Baillie se utiliza da frieza e do distanciamento para realçar as sutilezas da trama. A trilha sonora torna-se muito mais relevante justamente por ser utilizada tão esparsamente. Apenas três músicas têm impacto marcante: “Sons Of”, de Scott Walker (que abre o filme, com um tom dramático e desesperado), “The Jean Genie”, de David Bowie, e a linda “If There Is Something”, do Roxy Music – as duas últimas são responsáveis pelos melhores dez minutos do filme, na seqüência do diálogo de Joe Scott (interpretado quando jovem por Harry Eden, roubando a cena) e Ruth Davies (interpretada quando jovem pela encantadora Felicity Jones) em que discutem a letra de “The Jean Genie” e imitam Roxy Music cantando “If There Is Something”.

Resumindo, “Reflexos da Inocência” é um filme bonito, triste e que trata de oportunidades perdidas e daquelas pequenas escolhas que acabam influenciando toda uma vida. Com seu misto de passado e presente, pinta com poucas e sutis pinceladas um retrato de uma vida, suas esperanças e suas desilusões. Esperemos que Baillie Walsh não leve mais doze anos para nos agraciar com um de seus filmes!

Curiosidade: na verdade, papéis em dramas é mais uma volta às origens do que uma reinvenção para Daniel Craig, uma vez que quando começou, ainda adolescente, interpretou “Oliver”, “Romeu & Julieta” e “Cinderela”, no teatro inglês. Outro rosto conhecido na Inglaterra é o de Jodhi May, que interpreta a sexy Evelyn Adams – entre diversos outros papéis em séries inglesas, ela interpretou Anne Boleyn na versão para televisão de “A Outra”, em 2002.