Tim Festival à Vista

O Tim Festival, um dos eventos musicais mais tradicionais (em sua sexta edição, ocupando o lugar do finado Free Jazz Festival) do cenário brasileiro, já tem datas e locais confirmados – ocorrerá na segunda quinzena de outubro no Rio de Janeiro (Marina da Glória), São Paulo (Ibirapuera) e Vitória (Teatro UFES). Estranhamente, Curitiba, que há anos sedia também o Tim Festival, foi deixada de fora da edição de 2008.

Depois dos delírios iniciais de costume (todo ano é a mesma coisa) – os delírios da vez incluíam Amy Winehouse (que não se sabe nem se conseguirá continuar fazendo shows até outubro), Franz Ferdinand, Kaiser Chiefs, Mika e até mesmo o lendário Leonard Cohen (há rumores que Mika e Cohen ainda têm chance de acertarem com o Tim Festival, mas é muito difícil) – a seleção até o momento de artistas internacionais confirmados (11, no total) é muito boa. Com mais um ou dois nomes fortes, poderemos ter uma das edições mais atraentes de todos os tempos.

O indie, como sempre, está muito representado na edição 2008: nada menos que cinco bandas já confirmaram presença (The Gossip, Klaxons, Gogol Bordello, MGMT e The National), mas todas com o seu grau de originalidade. Mas como vem ocorrendo com freqüência nas últimas edições, os mais aguardados são os “outros”. Na parte Jazz, temos já confirmadas as participações da cantora Stacey Kent, da pianista Carla Bley, da revelação Esperanza Spalding e o lendário saxofonista Sonny Rollins.
Sonny Rollins completa o trio de destaque maior do Tim Festival 2008 (pelo menos até o momento) – junto a ele temos o excepcional Paul Weller, ex-líder tanto da importantíssima Jam quanto do Style Council, e o rapper e produtor Kanye West, cujo show – “Glow In The Dark” – foi eleito pela crítica norte-americana uma das melhores produções da década.

Resta-nos ainda esperar mais novidades – e assim que novos nomes forem confirmados, eles serão noticiados aqui no OutraCoisa.

Curiosidade: aparentemente, nomes brasileiros demorarão mais para serem confirmados e/ou divulgados. No entanto, um deles já é certo: o ex-hermano Marcelo Camelo. Boa pedida!

• Carla Bley: a pianista norte-americana de setenta anos é uma das referências do jazz, famosa por sua originalidade em composições e arranjos. As suas músicas geralmente contêm estruturas assimétricas, ritmos quebrados, melodias imprevisíveis (mas que pegam fácil) e letras que muitas vezes misturam humor e drama, subvertendo a fórmula do jazz com efeitos incríveis. Seu mais recente álbum, “Appearing Nightly”, será lançado ao final de agosto.

• Esperanza Spalding: quanto tinha 15 anos, pegou pela primeira vez em um contrabaixo, e meses depois já era considerada um prodígio musical. Além da sua proficiência instrumental, Esperanza também é conhecida por mesclar suas raízes de jazz com outros ritmos, como blues, funk, pop-fusion e world music (principalmente ritmos cubanos e brasileiros). Vem ao Brasil após lançar, este ano, seu segundo álbum, “Esperanza”, no qual gravou “Ponta de Areia”, de Milton Nascimento – que certamente estará presente no show.

• Gogol Bordello: provavelmente a banda mais alternativa e diferente a tocar neste Tim Festival, com nada menos que oito integrantes, de diferentes nacionalidades: Eugene Hütz (vocalista e líder do grupo), Oren Kaplan (guitarra), Yuri Lemeshev (acordeão), Sergey Rjabtzev (rabeca), Tommy Gobena (baixo), Eliot Fergusen (bateria), Pam Racine e Elizabeth Sun (dançarinas/percussionistas). Apesar de existir há quinze anos, foi só nos últimos cinco anos que a banda conseguiu reconhecimento e sucesso; e com sua mistura de rock, punk, dub, música cigana e flamenca, show explosivos e teatrais, e letras surreais falando sobre imigrantes nos EUA, o Gogol Bordello promete ser uma atração à parte.

• The Gossip: é uma banda indie com influências marcantes de punk e rockabilly, liderada pela polêmica vocalista Beth Ditto (completam a banda o guitarrista Brace ‘Nathan’ Paine e o baterista Hannah Billie), famosa pela militância contra Bush e pró-casamento gay. Lançaram seu terceiro disco de estúdio, “Standing In The Way Of Control”, elogiado pela crítica, em 2005.

• Kanye West: entre 2001 e 2004, Kanye West passou de produtor de hip-hop a criador de hits no mundo todo. Já era produtor respeitado no meio, mas foi após produzir de forma brilhante o álbum “Blueprint”, de Jay-Z – que conseguiu o reconhecimento do público. Por três anos continuou apenas como produtor (incluindo, além de Jay-Z, obras de Ludacris e Alicia Keys) até lançar seu primeiro álbum, “The College Dropout”, que foi nomeado a nada menos que 10 Grammys (ganhando três) e levando Kanye ao estrelato mundial. Figura sempre presente na mídia (chegando a aparecer na capa da Rolling Stone vestido de Jesus Cristo), vem ao Brasil com a superprodução “Glow In The Dark”, turnê do seu álbum “Graduation”, de 2007.

• Klaxons: banda que até o momento lançou apenas um álbum (“Myths Of The Near Future”, 2007), mas que já conseguiu muitas críticas positivas e virou o novo xodó da conceituada revista NME. O trio (composto por Jamie Reynolds, James Righton e Simon Taylor) é extremamente influenciado por dance music e pelo movimento rave na Inglaterra do início dos anos 90 (o próprio Jamie Reynolds denomina o Klaxons uma banda de “nu-rave”).

• MGMT: antigamente chamada The Management, a dupla formada por Ben Goldwasser e Andrew van Wyngarden fica no meio do caminho entre o electro-punk art-noise do Suicide (especialmente no seu EP de estréia, “Time To Pretend”) e o pop psicodélico cerebral do Flaming Lips, como pode ser conferido no seu único album até o momento, o experimental “Oracular Spectacular”.

• The National: certamente, dentre as bandas indies confirmadas, é aquela mais próxima do rock tradicional. Ela é composta por Matt Berninger (vocais), e pelos pares de irmãos Bryce (guitarra) e Aaron Dessner (baixo) e Scott (guitarra) e Bryan Devendorf (bateria). Incorporando vários estilos em suas composições (como country alternativo e pop), o National chega ao Brasil na turnê do ambicioso “Boxer”, álbum lançado ano passado.

• Paul Weller: seu currículo é invejável – foi líder de ninguém menos que The Jam, a banda inglesa mais popular da era punk (barrando o Clash na época e influenciando bandas desde Smiths até Oasis), além da mais desconhecida Style Council (com fortes influências Motown, soul e jazz-pop). Em sua carreira solo voltou às raízes mais rock do Jam, retornando ao status de um dos mais importantes artistas na Inglaterra. A turnê que o traz ao Brasil é do seu novo álbum, “22 Dreams”, elogiadíssimo pela crítica no mundo todo (que o coloca no mesmo patamar do seu indiscutível melhor disco, o espetacular “Wild Wood”) e sucesso de vendas na Inglaterra e nos Estados Unidos. Para aqueles que (ainda) não o conhecem, uma boa introdução é a coletânea “Hit Parade”, que contém músicas tanto solo quanto com suas ex-bandas (como costumam ser também os seus shows).

• Sonny Rollins: um dos maiores gigantes da história do jazz, disputando com Coleman Hawkins, Lester Young e John Coltrane o título de melhor saxofonista tenor de todos os tempos. O nova-iorquino de 77 anos (fará 78 em setembro) chegou ao estrelato do jazz ao gravar em 1951 com Miles Davis e em 1953 com Thelonious Monk, e a partir de 1957 passou a ser líder de bandas de jazz, posto ocupado até hoje. Se “aposentou” duas vezes durante sua carreira, mas sempre voltando, e cada vez mais inovador (chegando a incluir elementos de pop e R&B em seus álbuns). Apesar de seus trabalhos nas últimas três décadas serem irregulares, Rollins continua um solista espetacular e seus shows, extraordinários, como comprova o ótimo “Without A Song: The 9/11 Concert”, álbum ao vivo de 2005.

• Stacey Kent: sem treinamento formal e com um diploma em literatura comparativa, nem ela esperava uma carreira musical – mas, depois que começou, durante uma viagem pela Europa, nunca mais voltou. Saiu de cantora do Hotel Ritz em Londres para um papel no filme “Richard III”, de Ian McKellen. Vem ao Brasil trazendo seu álbum mais elogiado desde sua estréia (com “Close Your Eyes”, de 1997), intitulado “Breakfast On The Morning Tram”.