“O Advogado do Terror”

Chega aos cinemas brasileiros esta semana o excelente documentário que foi a sensação de Cannes (chegando a ganhar um César, o principal prêmio cinematográfico francês, este ano) e chocou platéias e a crítica mundo afora: “O Advogado do Terror”, de Barbet Schroeder (no original, “L’Avocat de la Terreur”).

O filme conta a história do famigerado Jacques Vergès, cuja descrição na mídia norte-americana para promover o filme era: “Dictators. Terrorists. War Criminals. Meet the man who defended them all” (em português: “Ditadores. Terroristas. Criminosos de Guerra. Conheça o homem que defendeu todos eles”). E, por mais sensacionalista que pareça, é a mais pura verdade – Vergès defendeu, entre outros, Klaus Barbie e Carlos o Chacal, além de ser amigo de personalidades como Pol Pot, Waddi Haddad (o fundador do terrorismo fundamentalista internacional) e Aiatolá Khomeini.

Barbet Schroeder, sem se posicionar hora alguma, traça um perfil muito pessoal do advogado em questão: não procura se ater nos sensacionais julgamentos, por mais repercussão que possam ter tido (omite, por exemplo, a defesa recente do ditador sérvio Slobodan Milosevic), mas, sim, no lado humano e na vida de Vergès fora dos tribunais, como o seu passado pré-advocacia, a sua luta pela Argélia (incluindo sua ligação íntima com Djamila Bouhared) e seu relacionamento pessoal com seus clientes.

É extremamente inquietante ver um documentário com o outro lado da moeda; a maior parte dos entrevistados defendem as práticas terroristas como uma forma legítima da busca por justiça e liberdade – méritos incontestes para Schroeder por conseguir entrevistar tantos terroristas, ex-terroristas e pessoas envolvidas nos conflitos em questão. Quando se pensa na luta contra o imperialismo e na destituição do poder vigente por meios violentos, não há como não observar que os terroristas na guerra de independência argelina, que se utilizavam de bombas contra civis, hoje fazem parte do governo da Argélia. E, mesmo ao fim do filme, é difícil achar que o lado de Vergès está com a razão – mas, da mesma forma, o lado de cá da moeda não é muito melhor. A impressão com que se sai do cinema é a mesma do filme “O Reino” (OutraCoisa) ou do ótimo filme “Munique”: esta realidade não irá mudar nunca.

Curiosidade: quando perguntado se teria ousado defender Hitler, Jacques Vergès respondeu: “Eu defenderia até Bush, contanto que ele se declarasse culpado!”. Apesar de praticamente todos os seus clientes terem sido condenados (muitos à morte), nunca um deles foi executado.