Comédia-em-Pé no Brasil

marcos castro outracoisa Comédia em Pé no BrasilO Stand-Up Comedy, formato humorístico em expansão no Brasil e já discutido em outro artigo do OutraCoisa, continua a pipocar em todos os cantos do país. Agora, o OutraCoisa entrevista Marcos Castro, humorista que participou do programa “Domingão do Faustão” em um quadro que abre espaço para novos talentos da comédia. Marcos vai falar um pouco sobre a sua história e o Stand-Up, este puro e extremamente divertido jeito de fazer rir.

OutraCoisa: Bom, antes de mais nada, é verdade que você é um designer com formação em Matemática?

Na verdade, não, isso é coisa do Faustão… Eu faço alguns trabalhos como web designer, e não designer, e atualmente faço mestrado em Matemática Aplicada. Tudo a ver com comédia.

OutraCoisa: Pra falar a verdade, dizem que um bom comediante tem que ter raciocínio rápido. A matemática pode te ajudar, não é?

Olha, no início eu achava que não, mas hoje em dia eu vejo que tem, sim, muito a ver. Em muitas das piadas que construo eu tento ser bem lógico, racional. Mas como não existe uma fórmula que calcula a graça de uma piada, tenho que torcer para ter o insight, a criatividade… Sem contar que quando eu estudo, trabalho muito a mente, então fico com a cabeça a mil, e idéias loucas vêm à tona.

OutraCoisa: Falando em insight, como surgiu a idéia de fazer Stand-Up?

Eu sempre gostei de Stand-up. Gostava muito do Seinfeld e do Chris Rock. Nunca cheguei a ser um grande entusiasta, mas gostava… Quando descobri que tinha no Brasil, com o Comédia em Pé e o Clube da Comédia, no RJ e SP respectivamente, fiquei animado para ver. Quando vi que o Comédia em Pé abria espaço para quem quisesse fazer, eu me animei, pois sempre contava piadas e fazia palhaçadas em rodas de amigos. Comecei a montar meus textos, e depois de um tempo tive coragem para mandar meu texto para eles.

OutraCoisa: Você adiantou uma pergunta importante, sobre referências. O Brasil tem um número enorme de grandes comediantes, mas que normalmente usam personagens e estruturas de esquetes para atingir sua platéia. O Stand-Up de verdade é relativamente recente por aqui. Quais são os artistas deste tipo de comédia que você admira?

Olha, provavelmente eu vou me esquecer de alguns, porque admiro o trabalho de muitos, como Bruno Motta, Danilo Gentili, Fernando Caruso, Fabio Porchat, Claudio Torres Gonzaga, Paulo Carvalho, Fabio Rabin, Murilo Gun, Leo Lins, Marco Zenni, Felipe Absalão, Henrique Fedorowicz, José Sapir, João Sena, Rafinha Bastos, Diogo Portugal e por aí vai… O fato é que as pessoas do Stand-up são muito unidas em geral, então é normal um gostar e apoiar o trabalho do outro. Parece que há um consenso em fazer o gênero crescer, e não um ou outro humorista. É claro que alguns se sobressaem, mas existe esse esforço em fazer o Stand-up crescer como um todo.

OutraCoisa: Mas isso é o mercado brasileiro, que realmente precisa e, se depender do talento de vocês, vai crescer. Em outros países, principalmente EUA e Inglaterra, este tipo de comédia já faz sucesso há muito tempo. Você citou Seinfeld e Chris Rock como bons humoristas. Existe alguma outra referência de fora que te agrade ou você prefere se pautar no trabalho desenvolvido no Brasil mesmo?

Eu prefiro me pautar no Brasil, por alguns motivos: o primeiro é porque eu sou ignorante… Brincadeira. Na verdade eu gosto muito de observar os comediantes americanos no que diz respeito à interpretação, vendo as caras e bocas, os olhares… Claro que eu observo o texto, mas isso é algo mais cultural. O humor já varia muito só entre Rio e São Paulo, o que dirá entre Brasil e outros países?

OutraCoisa: Você foi um dos classificados para a final do novo quadro de humor do Faustão, chamado “Quem Chega Lá”. Como foi participar do programa?

Foi uma experiência muito boa, televisão é sempre muito bom. Mesmo que eu não passasse, já seria uma vitória por conta da audiência. Eu particularmente acho meio complicado fazer Stand-Up para televisão, porque ela privilegia a imagem, e não o conteúdo, infelizmente. Tanto que eu fiz do meu Stand-Up uma coisa musical, cheia de gestos, para atingir esse lado mais visual.

OutraCoisa: É, tem a questão do tempo também. Um show de Stand-Up vai crescendo com a interação do público, então dois minutos para atingir o pico de “risadas” pode ser bem desafiador. Você pensou em alguma estratégia pra isso ou simplesmente arriscou o texto?

Só faltou eu traçar gráficos e resolver equações com isso. Porque eu pensei muito no formato e sinceramente, acho que fiz uma boa escolha. Comecei com energia para puxar o público para mim… Depois foi mais tranqüilo. Sem contar a questão da empatia, não parecer muito sério…

OutraCoisa: Mais uma vez, a matemática deve ter te ajudado. E na rua? As pessoas te reconhecem?

Não chega a tanto, não. Quem sabe, depois da final, né, hehehe…

OutraCoisa: Você está confiante para a final? Tem assistido aos seus competidores?

Sim, estou confiante. Aliás, se eu não estiver confiante, melhor nem ir… (risos)… Mas, sinceramente? Não estou entrando com clima de competição, e não digo isso da boca pra fora. De verdade, acho que o maior prêmio mesmo é participar, ainda mais para mim… Nunca participei de nada na TV. Tenho acompanhado o quadro todos os domingos, mas porque gosto de consumir comédia e acho importante para quem trabalha no ramo ver o que outros humoristas fazem até para avaliar nosso material.

OutraCoisa: Sobre o seu material. O Stand-Up normalmente é baseado em coisas do cotidiano. Você procura por material para show o tempo todo ou as piadas surgem sem muito esforço?

Eu até procuro, mas muitas vezes quando eu procuro, não dá muito certo. O que mais dá certo é quando elas chegam até mim, e eu vou destrinchando a piada, aumentando, criando coisas novas… Às vezes nem vem a piada, mas o contexto, e aí a gente olha: “hmmm, isso pode dar piada”.

OutraCoisa: Você pode dar algum exemplo?

Hoje eu vi uma noticia de que o Pelé foi assaltado em Santos. Daí eu pensei: pô, se foi assaltado o cara que é praticamente um ídolo no mundo tudo, ainda mais em Santos, onde aí sim ele é unanimidade, o que pode vir agora? O Zico vai ser assaltado dentro do Maracanã? O Maradona vai ser assaltado na Argentina? O Galvão Bueno vai ser assaltado em….. Hmmm… Tem algum lugar onde as pessoas gostem dele? E daí eu já posso falar mal do Galvão Bueno. São piadas que servem de escada para outras.

OutraCoisa: Bom, para finalizar e não te atrasar para o Comédia em Pé de hoje, duas perguntinhas. Onde podemos ver mais sobre o seu trabalho? E o que uma pessoa que gosta de Stand-Up pode fazer para entrar nesta área?

Bom, a partir de julho estarei todo domingo em SP com o show Stand-up in Concert, e espero voltar com o Sindicato da Comédia aqui no RJ. Eu vou colocar tudo em breve no meu site: www.marcoscastro.com.br. E para quem quer começar, bem… É importante ter duas coisas: bons textos e carisma. Não adianta chegar lá e querer contar uma historinha qualquer, tem que montar o texto, saber dosar as palavras, usar as palavras certas. Existe uma técnica por trás, mas isso vem com a experiência. É importante também a questão da empatia, do carisma. Você pode ter um texto brilhante, mas o público pode simplesmente não ir com a sua cara. De repente vocês podem pensar que eu estou desestimulando quem quer começar, mas não é verdade. Acho importante estar muito seguro do que se vai fazer, pois senão você corre o risco de se queimar, e pagar um mico muito grande. O Stand-Up abre muito espaço para todo mundo, e isso é bacana. Assunto não vai faltar nunca no mundo, e situações engraçadas também não. É só questão de transformar isso em um texto de Stand-Up.

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