“Buffy” Agita o Mercado de Comics

Séries são canceladas todos os dias, e geralmente os cancelamentos são recebidos pelos fãs com um misto de choque, raiva e incredulidade. A maior parte do elenco e da equipe das séries tem os mesmo sentimentos, algumas vezes mais fortes, especialmente quando uma série é cancelada “antes do tempo”. E ninguém sentiu isso na pele mais do que Joss Whedon.

Caso você não tenha idéia de quem seja Joss Whedon, vamos dar uma dica. Ele é o cérebro por trás dos sucessos da cultura pop “Buffy a Caça Vampiros”, “Angel” e “Firefly”. E as três séries – segundo ele e todos os fãs – foram canceladas antes de terem a chance de concluir a história que contavam. “Buffy” terminou porque Sarah Michelle Gellar se recusou a voltar as telas para uma oitava temporada. “Angel” foi substituído por um reality show antes que a sexta temporada sequer entrasse em produção e “Firefly”, mesmo sendo aclamada por público e crítica, foi cancelada na metade da primeira temporada.

Cada um desses cancelamentos machucou muito Joss Whedon, mas ele não perdeu as esperanças. As séries criadas por ele se tornaram sucesso de venda em DVD e “Buffy”/”Angel” conquistaram também o mercado de action figures (os populares “bonequinhos”). Mas, o mais surpreendente foi o fato de “Firefly”, uma série com apenas uma temporada, ser um sucesso de vendas tão grande que possibilitou a produção de um filme, “Serenity”, baseado na história da série.

Diante de tal sucesso junto ao público, Joss decidiu dar continuidade às suas estórias usando outro meio que não fosse a televisão. Levando em conta que em 2006 ele criou sua própria série “Astonishing X-Men”, que se transformou em best seller da Marvel e foi nomeado a diversos prêmios, Joss arregaçou as mangas e decidiu transportar as aventuras de “Buffy” e da “Scooby Gang” para o mundo dos comic books.

Junto com Scott Allie, editor da Dark Horse Comics, e o artista Georges Jeanty, Joss produziu a primeira edição de “Buffy a Caça Vampiros” no dia 14 de março de 2007. A estória contada nesse primeiro volume começa, cronologicamente, um ano e meio após os eventos do último episódio da série, e o planejamento foi de lançarem 25 volumes no decorrer de dois anos.

Foi uma jogada de mestre, e o sucesso foi estrondoso. A resposta dos fãs foi imediata e eufórica, afinal todos os seus personagens favoritos estavam reunidos novamente e ao alcance de suas mãos. A crítica aplaudiu a escolha do novo meio de divulgação, e as estórias puderam continuar a ser contadas sem restrição de verba, sendo a imaginação de Joss o único limite. A revista Entertainment Weekly chamou o comic book de “One of the top 20 events of 2007″ (em português: “Um dos 20 melhores eventos de 2007″) e isso fez com que os 25 volumes iniciais se transformassem em 40. Alegria para os olhos dos fãs.

Com o sucesso dos quadrinhos de “Buffy”, Joss decidiu levar para o papel o mundo de “Angel”. “Angel: After the Fall” foi lançado em 21 de novembro de 2007 e segue a mesma estratégia com sucesso similar, sendo que em “Angel” a ação começa imediatamente após os eventos do episódio final e leva os personagens a lugares que antes a falta de verba não permitia. Logo em seguida veio “Serenity: Better Days”, publicado pela primeira vez em 12 de março de 2008, que mostra os personagens de “Firefly” em eventos após o fim da série mas antes do filme.

Joss Whedon não foi o primeiro a adaptar seus personagens de tv para estórias em quadrinhos. Em 1992, Ash de “Evil Dead” teve uma série publicada e a Cartoon Network publicou suas histórias por anos. Apesar de não ter sido o pioneiro nessa estrada, Joss foi o primeiro a tratar as histórias em quadrinho com o mesmo entusiasmo que tratava as suas séries de tv, mantendo o controle dos três projetos em suas mãos.

“Serenity: Better Days” segue a mesma linha de desenvolvimento dos personagens e mantém o elenco original da série. “Angel: After the Fall” continua discutindo os limites da redenção e a definição do que um herói deve ser, técnica bem usada durante suas cinco temporadas. A versão de “Buffy” para os quadrinhos mantém os diálogos afiados, metáforas e os personagens nem sempre perfeitos que fizeram sucesso durante anos.

A idéia de transportar os personagens da tela de tv para as HQ não vai morrer em Joss. Muitos autores, especialmente de hits como “Lost” e “Heroes”, levam vidas duplas, escrevendo simultaneamente para a TV e para os Quadrinhos. Sem contar que a chance de continuar contando uma histórias com baixos custos é muito atrativa para os escritores. Mais uma vez, o potencial do trabalho desenvolvido por Joss Whedon serve de inspiração para outros escritores.