“O Planeta Proibido”, o Filme…
por Eduardo Santos em maio 20, 20084 Comentários Publicado em Cinema, Cultura Nerd, Em DVD
Sabe qual foi o primeiro computador pessoal? E quem inventou a minissaia? Já leu “A tempestade“? Sabe o que é “id”? E qual o primeiro produto comercial desenvolvido pela Microsoft? Conhece a mais famosa “prequela” de Jornada nas estrelas? E qual foi a primeira trilha sonora eletrônica? E de onde surgiu a nave “Jupiter 2″ e o robô “B9″ de Perdidos no espaço?
Tudo isto está em “O planeta proibido” um filme seminal que fez história no cinema em tema, em forma, no som e no figurino misturando Shakespeare com Freud.
O mega-clássico sci-fi da década de 50 e seu monte de referências
Comentários sobre o filme O planeta proibido (Forbidden Planet, 1956) de Fred M. Wilcox
O ano é 1956. E no cinema foi um ano bem disputado. Estreava então o blockbuster das multidões com efeitos de tirar o fôlego e muita, muita gente em cena: “Os dez mandamentos” . O ano trouxe também a adaptação de Michael Anderson para o cinema da obra de Jules Verne, “Volta ao mundo em 80 dias” além de “O rei e eu“, outra adaptação, de Walter Lang. Isso para ficar só nos mais conhecidos.
Mas é época de grandes orçamentos e de produções que correspondem bem ao termo “espetáculo”. “Os dez mandamentos” foi o filme que encerrou a carreira de diretor de Cecil B. DeMille com o então astronômico orçamento de 13 milhões de dólares. “O planeta proibido” não teve assim tanto dinheiro para gastar mas foi o maior orçamento até então para um sci-fi: 1,9 milhão de dólares.
E o resultado se vê na tela. O filme é em Cinemascope e em widescreen. Os efeitos são surpreendentes para a época. É claro que há do que se rir – e isto é ótimo.
O robô Robby, por exemplo, tornou-se um popular brinquedo vendido há gerações. Mas se suas entradas em cena são risíveis, seus “dramas de consciência” hão de inspirar toda uma série de produções de ficção sobre se nossas criaturas artificiais vão ou não nos fazer mal. Robby nos fará rir de novo em “The invisible boy” e “The Thin Man“, ambos de 1957, além da conhecidíssima série “Perdidos no espaço“, um episódio de “A família Addams“, o recente “Looney Tunes: De volta à ação” , de 2003, entre muitas outras participações especiais.
E o galã do filme? No papel de Cmte. Adams ninguém menos que Leslie Nielsen, quase irreconhecível e imberbe. Você fica como que esperando ele soltar a próxima piada mas como o papel é sério não precisa: há inúmeros momentos divertidos proporcionados por todo o cenário retro-futurista.
Há as pernas da deliciosa Altaira Morbius, personificada por Anne Francis (que pode ser vista um pouco mais madura no episódio de 2004 “Shadows” de “Whithout a trace“). Altaira veste minissaias quase inacreditáveis. E fica linda em todas elas.
Não há exatamente uma referência única para quem teria inventado a minissaia. Há o tradicional crédito a Mary Quant mas uma das mais populares versões alternativas é o figurino criado para Altaira por “Helen Rose“.
Mas o filme tem ambições mais sérias. Coloca questões atualíssimas sobre como a evolução tecnológica e cognitiva enseja o aumento de nossa capacidade de destruição. E o faz através do confrontamento com nossa mais intríseca natureza: os monstros do id. O criador enfrenta a criatura mas a surpresa é quem de fato é criatura ou criador.
O legado de “O planeta proibido” é impressionante. Se você é um trekkie certamente já assistiu “The cage“, o piloto esquecido de “Jornada nas estrelas” ainda sem o Cap. Kirk. Se não, verifique a enorme similaridade de tema, conceito e estilo. Mas ainda que você não seja fã do mais famoso seriado sci-fi de todos os tempos vai se surpreender com as similaridades que “O planeta proibido” guarda.
O planeta proibido do filme tem nome. É “Altair 4″. E Altair é também o nome do primeiro computador pessoal, lançado em 1975 e de um sabor da linguagem de programação BASIC, o Altair BASIC, que foi nada menos que o primeiro produto comercial desenvolvido pela Microsoft.
A trilha sonora está a cargo do casal Barron. Louis e Bebe Barron criaram em 1955 uma trilha que é considerada um marco na música eletroacústica. “O planeta proibido” foi, na verdade, o primeiro filme comercial que usa somente música eletrônica. Além disso a trilha desempenha no filme uma função inédita. Ela rompe a barreira entre música e efeitos especiais criando um novo tipo de unidade sonora. Em alguns momentos é virtualmente impossível dizer se o que se ouve é música, efeito sonoro ou ambos. Foi uma abordagem que precedeu em décadas a concepção sonora atual de filme e vídeo.


Compare a cena de “Babylon 5” e o original de 1956
E, bem, se você já chegou até aqui quem sabe já leu “A tempestade” de Shakespeare? É fácil reconhecê-la como estrutura básica de “O planeta proibido”. Estão lá Próspero, Miranda, Caliban e até mesmo Ariel.
Claro que, como todo sci-fi, “O planeta proibido” é refém de seu próprio tempo. Seu futuro é o futuro dos anos 50 com tubos de aspirador de pó e moral machista. A tripulação da nave, toda de caucasianos, várias vezes não tem o que fazer em cena.
E os anos 50 são a época do macartismo. Assim como “Vampiros de almas“, lançado um mês antes, brinca com o medo de comunistas, “O planeta proibido” coloca em xeque o amor e ódio à tecnologia.
Não é um filme de prêmios. Foi apenas indicado para o Oscar de efeitos especiais de 1957. Perdeu, é claro, para “Os dez mandamentos”. Mas é um filme imperdível para quem gosta de cinema, sci-fi, Jornada nas estrelas, Perdidos no espaço, Shakespeare, Freud e minissaias.
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