“O Tempo e o Lugar”
por Eduardo Santos em maio 14, 2008Zero Comentários =( Publicado em Cinema, Destaque
Comentários sobre o filme “O Tempo e o Lugar” (2008) de Eduardo Escorel
André Bazin uma vez disse que “o cinema substitui o mundo por outro que está mais de acordo com nossos desejos”. Foi afinal, a tela grande na sala escura que estabeleceu lá no fim do século XIX um novo parâmetro para deslocamento espaço-temporal. E o novo parâmetro é de cultura de massa. As primeiras exibições dos Lumière são um dos tiros de misericórdia no moribundo século. Cinema é arte do século XX. E reconstrói a realidade privando-nos dos sentidos que perscrutariam o mundo exterior nos isolando em sua bolha de espaço-tempo. O século que começava iria ainda nos surpreender muito em termos de veiculação de informação para grandes contingentes demográficos. O cinema entretanto, despersonaliza a ficção do teatro, rompe com a literatura através do imagético, usa a música e a expande e redesenha o próprio universo de nossos desejos.
Hoje discutimos sobre se o estado do cinema é mesmo terminal. É que já passamos pela televisão, pelo satélite e vivemos digerindo a internet como mídia a fornecer os percentuais diários de nossa dieta subjetiva. E muitos temos em casa o simulacro do antigo cinema da esquina. Isso com qualidade técnica superior a quase todo cinema de mundo real de minha infância. Hoje não há cinemas na esquina. Estão todos no shopping. E ainda assim o que nos é servido se parece muito pouco, em termos técnicos, de produção e de discurso, com o que vínhamos entendendo como cinema.
É este curioso deslocamento a que se propõe o filme de Eduardo Escorel. “O Tempo e o Lugar” é um documentário rodado em Inhapi, que utiliza três diferentes linguagens, cada qual com sua tecnologia de vídeo em três épocas distintas. Ligando estes três momentos está Genivaldo Vieira, ali nascido e criado. E é no paralelo entre a biografia de Genivaldo e a do Presidente Lula que se desenvolve o filme.
Genivaldo Vieira da Silva é agricultor familiar da região semi-árida de Alagoas e membro leigo da igreja católica. Emigrou mas não conseguiu se acostumar ao papel de peão de obra. De volta ao Nordeste constituiu família, convicto que ali é seu lugar. Foi líder do Movimento Sem Terra (MST) e participou de saques e ocupações de terras. Foi candidato derrotado a prefeito da sua cidade natal, pelo (PT). Hoje Genivaldo continua fiel à sua vocação de ativista político, porém com atuação independente. Dedica-se a uma organização que criou para fortalecimento da agricultura familiar.
O discurso documentarista dá a estes tempos e lugar selecionados por Eduardo Escorel uma perspectiva única de substituir seu mundo por um outro. E este mundo de Genival é aquele que a gente vê nas notícias, um Brasil rural que o urbano desconhece e olha uma com nostalgia romântica inteiramente contrária às manchetes.
O filme foi selecionado para a Competição Brasileira do .
Confira se seus desejos estão mais de acordo. A estréia está programada para esta sexta-feira, 16 de maio de 2008, nos cinemas do Rio de Janeiro e de São Paulo.