“Loucos por nada”
por Eduardo Santos em maio 9, 2008Zero Comentários =( Publicado em Em DVD
Filme Estranho com Gente Esquisita e Excelente Humor
Comentários sobre o filme Loucos por nada (Eagle vs Shark, 2007) de Taika Cohen
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada…”
Este é um dos mais populares versos do Poema em linha reta de Álvaro de Campos. E acredito que Álvaro de Campos seja o mais popular dos heterônimos de Fernando Pessoa. Claro que “popular” não é exatamente o mais óbvio dos adjetivos para poesia. E muito menos heterônimos. Fernando Pessoa mesmo só é pop naqueles cartões feitos para o “dia de depois”. Mas o que o grande poeta tem a ver com uma comédia romântica nerd neo-zelandeza?
Comédias românticas contam como casais se conhecem e o que acontece antes de conseguirem ficar juntos e felizes para sempre. É em cima desta idéia básica que se adiciona todo tipo de situação e os mais diversos personagens. E as comédias românticas funcionam em torno de o quanto estes personagens e situações conseguem ser interessantes. Há, claro, uma necessidade de ser bem humorado; de ser leve. A gente vê comédias românticas com nosso amor e quer sempre beijar muito no final (e no início e no meio). Comédias românticas onde os eventos são tristes ou os enamorados não terminam juntos são normalmente conhecidas como dramas românticos.
Mas a fronteira entre o “leve e divertido” e o “banal e sem graça” é muito tênue. Tenho enorme má-vontade com comédias românticas porque é um gênero que pré-define muita coisa. É preciso criatividade, texto, timing, bons atores, tudo enfim que não é a estrutura da história para tornar interessante uma comédia romântica. Você afinal, já sabe mesmo o que vai acontecer.
E há a tendência de supor que os belos rostos de talentosos atores bastam. Para a comédia romântica funcionar é preciso estabelecer vínculo com os personagens. É preciso que se queira, que se torça para que eles terminem juntos. E para isso é preciso compor tipos interessantes além de situações em que possam se desenvolver. Se há um baú do tesouro da comédia romântica é aí que ele está. Aquela gente linda e insossa que vive um monte de situações clichê é um convite ao tédio, ao zap e eu – juro – torço mesmo é para que sejam desmaterializados.
Loucos por nada (Eagle vs Shark, 2007) é uma comédia romântica de quem já levou porrada. É filme estranho com gente torta, esquisita e até mesmo feia em uma primeira olhada. É gente que não fala bonito, que paga mico e que parece de carne e osso. É gente que escreve torto em linha reta. Os deuses, os que escrevem certo em linhas tortas estão no filme para escada. O olho do filme vê os personagens de uma distância em que ninguém é normal.
Lily (Loren Horsley) é uma balconista de fast food cuja vida se ilumina todo dia a mesma hora. É a hora em que chega para almoçar Jarrod (Jemaine Clement), também balconista de uma vizinha loja de eletrônicos. O amor secreto de Lily entretanto, não é retribuído por Jarrod. Ele ainda acredita que o ‘normal’ existe. E, muito pior, que é bom. Ela (são sempre sábias as mulheres) está farta de semideuses. Ela quer alguém que confesse não uma violência, mas uma covardia.
Um dia Jarrod pede a Lily que entregue a sua bela amiga de trabalho um convite para uma festa. A amiga que despreza Jarrod descarta o convite na primeira lixeira. E é claro que Lily vai à festa. É uma festa a caráter. O tema para fantasia é seu animal preferido. Ela vai de tubarão. Encontra-o vestido de águia.
Daí para frente há um desfilar de situações insólitas e surpreendentes. O interessante é que são extremamente sensíveis, humanas e muito, muito engraçadas.
Loucos por nada ganhou prêmio de melhor roteiro no Festival de Artes de Comédia dos Estados Unidos, melhor narrativa e melhor atriz (Loren Horsley) no Festival Internacional de Newport, foi indicado no Festival de Sundance além de outras premiações menos conhecidas.
Há um site para o filme que pode ser visitado clicando aqui.
Veja abaixo o trailer do filme
Para encontrar cópias em DVD, consulte sua locadora favorita ou clique aqui