“O Presidente Negro”

Foi Monteiro Lobato que disse que “Um país se faz com homens e livros” e que, cético, procurava presumir de menos e questionar o máximo possível.

Nascido em 1882, Lobato é a prova de que ceticismo não é sinônimo de falta de imaginação.

Pouco depois de escrever o livro, Lobato foi para Nova Iorque e acabou se tornando adido comercial da representação diplomática brasileira o que indica que havia interesse, de sua parte, em aportar além-mar com sua literatura.

Antes disso, contudo, tendo criado todo um universo de fantasia – o “Sítio do Pica-Pau Amarelo” – que iniciou na leitura toda uma geração de futuros nerds. Monteiro Lobato, contudo, não escreveu apenas livros de fantasia, tendo com “O Presidente Negro” – inicialmente batizado de “O Choque” – investido nada menos do que em Ficção Científica.

Um romance inovador e ousado, “O Presidente Negro” foi escrito em 1926 e publicado em folhetins no jornal carioca “A Manhã”, sendo ambientado no Século XXIII, em 2228, nos EUA.

Rico em interpretações, “O Presidente Negro” lida com temas densos com o jeito competente de Lobato de contar histórias, passando por segregação, degradação cultural, feminismo e paliativos tecnológicas para o abismo existencial que se coloca entre classes sociais, etnias, culturas e entre cada um de nós.

Quase profético, o livro conta a história da eleição do octagésimo oitavo presidente americano, à qual são candidatos o negro Jim Roy, a feminista Evelyn Astor e o então presidente Kerlog, que busca a reeleição – uma realidade bastante familiar nos dias de hoje mas bastante inverossímil a época em que a obra foi escrita.

Ao falar de comunicação neste futuro imaginário, Lobato descreve detalhadamente como algumas pessoas trabalhariam em casa, enviando via Rádio o produto de seu trabalho, mediante um elaborado mecanismo que nem difere tanto do que, hoje, é a combinação Computador/Internet.

Toda a estória vem contada no livro como meta-estória, uma vez que ela nos chega pelo inepto Airton, personagem que se aproxima da filha de um cientista que, este sim, descobre um meio de desvendar o futuro com auxílio de uma máquina chamada “Porviroscópio”.

É um erro clássico e colossal atribuir aos acontecimentos do livro qualquer traço de racismo por parte do autor, que assim como George Orwell e Aldous Huxley, navega sem pudor pelo campo do alarde ao totalitarismo como crítica e não como endosso.

Monteiro Lobato, com a habilidade que conhecemos, ataca o problema da degradação cultural de uma minoria em cerca de 200 páginas, não só construindo uma historieta profética, mas uma alegoria que facilmente pode ser entendida como um alerta para o fato de que a globalização do pensamento, a busca de um ser humano normótico e o uso indiscriminado da tecnologia como solução dos problemas, podem ser ingredientes cuja conseqüência aponta para um mundo no qual a maior parte de nós não deseja ter de viver.

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