“A Invasão”

Nicole Kidman e Daniel Kraig estrelam este remake menos sombrio e mais dinâmico que os seus antecessores. Apesar de ter uma proposta não tão soturna e pessimista quanto os anteriores, “A Invasão” consegue capturar a sensação do fantástico “Os Invasores de Corpos”, de 1978.

Não é segredo que para além da camada óbvia de todas as versões de “Os Invasores de Corpos”, que lida com uma invasão alienígena silenciosa e de natureza bioquímica que acaba por substituir cidadãos por cópias não-humanas, o filme é farto em alegorias e sub-textos que remetem a sociedades totalitárias.

O filme lançado em 2007 tem uma conotação interessante tirando o eixo dado por “Os Invasores de Corpos”, de 1956 e 1978, que faziam alusão ao comunismo e a uma sociedade totalitária e sem emoções.

Na nova versão, dirigida por Oliver Hirschbiegel, tem edição estraordinariamente excêntrica e bem cuidada, levando o espectador a se colocar no lugar da personagem principal enquanto lhe dá tempo para refletir a respeito de onde viu aquilo tudo acontecer antes.

Em “A Invasão”, o inimigo não é mais alienígena ou comunista, mas nada menos que o conceito de Globalização, o totalitarismo velado e que se acerca de nós quando tiramos uma soneca para, no dia seguinte, acordarmos em um “mundo melhor”, sob a égide utopia, protegidos por uma “Pax Totalitaria”. Por vezes o filme parece tentar, desesperadamente, exprimir a essência dos perigos da Globalização do Pensamento e da incapacidade de sentir para a qual podemos estar nos dirigindo.

Inteligente em suas escolhas, feitas em conjunto com o roteirista Dave Kajganich – que se baseou no livro de Jack Finney
– o resultado de “A Invasão” está mais alinhado com um thriller psicológico do que com um show de efeitos especiais, o que é um grande alívio e torna a obra mais fiel ao espírito do original.

A presença de Veronica Cartwright no elenco – que também participou da versão de 1978 – é uma homenagem de muito bom gosto (sobretudo quando lembramos que sua irmã, Angela Cartwright, vivera Penny Robinson em “Perdidos no Espaço”, uma série de TV clássica da década de 1960).

Tendo sido programado para estrear em 2006, o filme teve seu lançamento adiado por insatisfação do estúdio com a edição de Oliver Hirschbiegel (que pela primeira vez filmava na língua inglesa). A Warner então lançou mão de Andy e Larry Wachowski (“Matrix”) para reescrever parte do roteiro e de James McTeigue (“V de Vingança”) para dirigir novas cenas.

Pode-se dizer, inclusive, que é possível perceber, por vezes, os dedos da parceria Wachowski-McTeigue no resultado final do filme.

Valeu a pena. Mesmo com um ar menos fatalista, o filme acabou se transformando em uma re-filmagem digna de nota, coroando o conceito por detrás do roteiro como um daqueles clássicos de Ficção Científica que podem ser feitos e refeitos em qualquer época.